A quase três quilômetros de altitude no deserto de Atacama no Chile, um conjunto de quatro grandes espelhos refletem a luz das estrelas mais distantes para gerar algumas das mais nítidas imagens dos mais tênues pontos de luz: é o singelamente chamado “Telescópio Muito Grande” (VLT) do Observatório de Paranal.
Pois é observando o observatório muito grande que algo de tirar o fôlego pode ser redescoberto.
No vídeo em lapso de tempo capturado pelos astrônomos Stephane Guisard e Jose Francisco Salgado vemos o movimento frenético dos telescópios contra o céu limpo em movimento. Mas ao assistir as imagens pelos minutos que passam como segundos, é quase inevitável sentir o que levou milhares de anos para ser compreendido: não é o céu que gira ao redor de nós. Somos nós que estamos girando.
E não estamos apenas girando ao redor do céu, porque o céu não é uma abóbada fixa. Giramos ao redor do eixo terrestre, giramos ao redor do centro de gravidade comum entre a Terra e a Lua, giramos ao redor de nossa estrela, giramos ao redor do núcleo galáctico, giramos ao redor do agrupamento local. E todos os pontos de luz que parecem fixos no céu estão em verdade todos realizando seus próprios movimentos, a velocidades tão grandes ou ainda maiores que aquelas com que cruzamos uma volta em torno do Sol em um ano. É apenas porque suas distâncias são quase incomensuráveis, os nossos olhos tão limitados e nossa capacidade de atenção tão curta, que parecem fixos.
A abóbada que nos cobre é infinita, não há nada fixo e nenhum ponto de referência absoluto em torno do qual tudo gire. Não só a Terra se move, tudo se move.
Descobrimos estes fatos inspiradores de humildade há alguns séculos através da ciência, e como Galileu ao apontar o telescópio às estrelas, ainda podemos nos maravilhar com uma câmera digital em lapso de tempo, uma boa edição e música para sentir algo que podemos comprovar ser verdade.
E podemos ainda apreciar como aquelas linhas de luz que são disparadas daqueles grandes espelhos apontados ao céu são feixes de luz coerente, lasers, disparados para criar nada menos que estrelas artificiais. Astrônomos criam pequenas estrelas artificiais na atmosfera, através das quais as minúsculas mas relevantes imperfeições introduzidas pela turbulência do ar que respiramos podem ser corrigidas para que possamos ver mais longe.
Das lentes polidas à mão de Galileu a estrelas artificiais criadas por lasers, astrônomos descobriram muito, mas precisamos todos também experimentar algo deste conhecimento. Se você sentiu a Terra girar, pode imaginar o quanto ainda pode experimentar ao compreender e se aprofundar em tudo que se descobriu desde o gênio de Galileu. Já dizia um certo astrônomo que a astronomia é uma experiência que inspira humildade e contrói o caráter. É a poesia do real.
Ora (direis) ouvir estrelas!