Brastemp, Post-it e Dom Perignon

BRASTEMP – Brasil. Eletrodomésticos. 1954.

Desde o início da civilização seres humanos tentam influenciar outros seres humanos a adotarem determinado tipo de comportamento ou idéia. Discutindo o atual contexto histórico (capitalismo), essa influência se dá principalmente por meio dos conceitos disseminados pelos meios de comunicação de massa.

De todas as técnicas usadas pela mídia para exercer influência, a mais direta e flagrante é a propaganda. Nela não há sutileza: quem assiste sabe que está tentando ser convencido de algo, mesmo que para isso tenha que acreditar em algumas coisas que são claramente meias verdades.

A Brastemp é um bom exemplo para entendermos como a propaganda manipula o real, criando conceitos e transformando o modo das pessoas perceberem uma marca.

Tudo começa em 1945, quando um boliviano chamado Miguel Etchenique Flores funda a empresa Brasmotor. As primeiras atividades da companhia foram a montagem de diversos tipos de bens duráveis, utilizando peças importadas. Logo no início eles conseguiram um contrato para montar carros da Chrysler e um tempo depois automóveis da Volkswagen.

Os negócios seguiram muito bem até os funcionários da Chrysler entrarem em greve nos EUA e a Volks abrir uma fábrica no Brasil. Sem suas duas bases principais, a Brasmotor teve que procurar outras oportunidades. Escolheram então investir em eletrodomésticos, especificamente naqueles de refrigeração, um mercado que crescia no Brasil. Surgia assim em 1954 a marca Brastemp, um acrônimo composto pelas quatro primeiras letras das palavras Brasil e temperatura.

A empresa trouxe diversas inovações para o mercado brasileiro de eletrodomésticos, no entanto ainda precisava reforçar sua marca na mente do consumidor. Isso começou a ser feito em 1992 com a contratação da Agência Talent de publicidade.

A estratégia da campanha criada pela Talent foi inovadora. Em vez de dizer ao consumidor “compre o produto por causa de suas qualidades técnicas”, como era feito até então, a propaganda da Brastemp dizia simplesmente: “compre porque essa marca é a melhor de todas”, assim mesmo, na lata, sem dar qualquer justificativa para isso.

Para reforçar ainda mais esse conceito de “preferência sem justificativa”, a Talent fazia propagandas com dois caras sentados numa poltrona dizendo basicamente “eu comprei uma geladeira, mas ela não é assim uma Brastemp”.

A tática da Talent funcionou muito bem. O slogan da Brastemp tornou-se absurdamente popular, chegando a incríveis 92% de reconhecimento junto ao consumidor. As vendas dispararam e a marca tornou-se sinônimo de qualidade, mesmo sem a propaganda dar qualquer justificativa técnica para isso.

A campanha durou 11 anos e, aposto meu dinheiro, você com certeza já usou ou já ouviu alguém usando o bordão “não é assim uma Brastemp” para se referir à qualidade de alguma coisa.

Curiosidades de Sobremesa:

1 – Quer ver como você acredita nas mentiras da publicidade? Compre um pacote de biscoito ou qualquer outro alimento embalado. Muito provavelmente a aparência do produto na foto da embalagem será bem diferente da sua aparência real. Se você não acredita, visite o blog Coma com os Olhos e veja as comparações que o autor faz.

2 – Essa noção da embalagem mentir sobre o produto é tão conhecida que até a usamos como metáfora para não julgar uma pessoa à primeira impressão, ou seja, não julgar alguém pela embalagem.

3 – Até o presidente Lula já usou o slogan da Brastemp durante um discurso oficial. Ao ser questionado sobre os prováveis resultados da economia em 2005, o presidente respondeu: estou extremamente otimista com a economia. Mas quero fazer um alerta aos pessimistas, o resultado deste ano não será uma Brastemp, mas será um bom resultado.

4 – As inovações da Brastemp foram muitas: a primeira lavadora de roupas, primeira geladeira com duas portas, primeira lava-louças, primeira geladeira Frost Free, primeiro freezer vertical e primeiro fogão autolimpante.

5 – A Brastemp pertence hoje à Multibrás S.A., companhia criada a partir da união das marcas Consul, Semer e da própria Brastemp.

6 – A Agência Talent também é responsável por transformar a sandália Melissa, da Grendene, num produto de sucesso. Além do slogan da Brastemp, a Talent também criou os muito conhecidos bordões “Bonita camisa, Fernandinho” (USTop), “Os nossos japoneses são mais criativos que os japoneses dos outros” (Semp Toshiba) e “Apaixonados por carro como todo brasileiro” (Postos Ipiranga).

7 – A primeira propaganda de nova campanha da Brastemp, em 1992, foi estrelada pela dupla de atores Wandi Doratiotto e Arthur Khol. O comercial foi dirigido por Fernando Meirelles, o famoso diretor de “Cidade de Deus”.

POST-IT – Estados Unidos. Bloco de recados. 1977.

Tudo começou em 1968 quando o pesquisador e funcionário da 3M, Spencer Silver, buscava criar uma cola super potente e com adesivo duradouro. Depois de vários experimentos e muita pesquisa, Silver não pode conter a frustração diante do resultado: a cola que tinha criado com tanto esforço para ser forte não funcionava. Ao contrário, a invenção de Silver era uma cola muito fraca, não servia para nada. Sendo assim, o adesivo foi deixado de lado e Spencer virou motivo de piada.

Mas isso só até 1974. Nesse mesmo ano Arthur Fry, também funcionário da 3M, procurou solucionar um problema que lhe afligia. Integrante do coral da igreja, ele sofria para manter marcadas as páginas do seu livro de cantos. Toda vez que abria a obra, os marcadores caiam. Tentando resolver o problema, Fry fuçou nos arquivos da 3M e achou a cola “fracassada” de Silver. Aplicando-a em pequenos pedaços quadrados de papel, ele percebeu que poderia fixar a anotação no papel sem correr o risco de estragar a folha, tudo graças à cola fraca criada sem querer por Silver.

Fry resolveu seu problema do coral e acabou criando um novo produto. A 3M o batizou de Post It Note. Analisando palavra por palavra, percebemos que o termo post tem vários conceitos, entre substantivos e verbos. Portanto, se você procurar no dicionário, vai encontrar significados como poste, estaca, correio, cargo, enviar e postar. No entanto, quando ao lado do it, um pronome usado para se referir a objetos e animais, o post ganha um sentido novo. Ele se transformar no verbo afixar. Quanto à note é um substantivo equivalente à anotação ou nota em português. Enfim, juntando as peças, podemos acreditar numa tradução literal mais ou menos assim: afixe isso como anotação.

Curiosidades de Sobremesa:

1 – A 3M criou um software capaz de pôr o Post-it no seu computador. Ao ser instalado, o programa permite que o usuário afixe os papéis em seu desktop.

2 – A configuração tradicional de um Post-it é um papel quadrado, amarelo canário, com lados de 7,5 centímetros.

3 – Mas, por que amarelo? Provavelmente para chamar atenção. Afinal, você não quer esquecer das suas anotações.

4 – É impressionante como as invenções mais simples são as mais fantásticas. Vemos isso no caso do Post It. Gosto também do clip, por exemplo. É apenas um pedacinho de aço dobrado do jeito certo. No entanto, tem tantas utilidades que você perde a conta.

5 – Fry não esqueceu de Silver. Os dois são co-autores da invenção do Post It. Ambos ficaram ricos por causa do produto.

DOM PERIGNON. França. Champanhe. 1937.

Qual é a diferença entre champanhe e espumante? Na verdade, as duas bebidas são idênticas, exceto que champanhe é o espumante fabricado na região da cidade antiga província de Champagne, no norte da França. Tudo o que não é feito ali deve ser chamado simplesmente de espumante. Não se trata de uma diferença de qualidade ou algo assim. É apenas uma convenção que procura honrar o local no qual a fabricação sistemática desse tipo de vinho foi criada.

Por muito tempo o espumante foi visto como um erro. Era considerada uma bebida “passada”, pois o gás carbônico gerado pela fermentação exagerada do vinho não agradava ao gosto dos consumidores daquela época. Acontece que no século XVII, durante uma safra problemática, o monge beneditino Pierre Perignon foi chamado pelos vinicultores franceses para achar um modo de impedir que o vinho “estragasse” e virasse espumante.

Ao contrário das expectativas, Dom Perignon, como ficou conhecido mais tarde, ignorou os pedidos e percebeu que a bebida tinha potencial. Sendo assim, em vez de resolver a questão, o monge passou o resto da vida aprimorando a técnica de elaboração do espumante. Seu trabalho foi homenageado pela empresa Moët et Chandon, que batizou um de seus champanhes com o nome Dom Perignon.

Curiosidades de Sobremesa:

1 – Um Dom Perignon 1998 Vintage custa em média 100 dólares, mais ou menos 250 reais.

2 – O champanhe é feito de três castas de uva: chardonnay, pinot noir e pinot meunier.

3 – A norma que nomeia os espumantes da região de Champagne como os únicos que podem ser chamados de champanhe foi feita em 1891.

4 – As bolhas criadas pelos espumantes são chamadas de perlage. Elas são capazes de mostrar a qualidade da bebida. Quanto mais persistentes, melhor o espumante. Porém, só é possível medir a persistência da perlage usando a taça adequada, chamada flute.

 

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Eduardo Nicholas