Danone, Consul e Fiat Lux

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DANONE – Espanha. Alimentos. 1919.

Existem casais que não querem ter filhos. Até já criaram uma expressão para designá-los: casais dink (double income, no kids). Essas pessoas apresentam vários argumentos para a sua escolha. O principal deles é o custo para criar um filho atualmente. Há também a idéia de que o nascimento do rebento interfere na danonerelação do casal. Se antes eles viviam um para o outro, depois das crianças o tempo fica curto e o amor fica mais direcionado aos pimpolhos. Então basicamente o cenário com filhos seria algo como “agora temos menos dinheiro e menos tempo um para o outro”.

Terão os dink’s razão? Vendo pelo lado deles, realmente ter filhos é uma experiência arriscada, uma vez que não tem volta. Obviamente, se você não gostar das crianças, não poderá devolvê-las. Por isso é uma decisão tão importante. No entanto, apesar disso, eu já vi e você já deve ter visto também um monte de gente procriando só porque acha os bebês muito fofos e deseja ter um para si.

De qualquer forma, independente das opiniões, posso dizer que o médico Isaac Carasso e sua esposa não formavam um casal dink. Ao contrário, Carasso era daqueles pais bem babões e cuidadosos.

 

Grego de nascimento, porém residente na Espanha, Carasso tinha um consultório no qual costumava tratar crianças que apresentavam problemas de constipação (intestino preso). Procurando uma solução para essa demanda específica, ele acabou conhecendo o trabalho do cientista russo Ilya Ilyich Mechnikov. Prêmio Nobel de Medicina em 1908, Mechnikov percebeu que as pessoas de algumas tribos da Bulgária tinham uma média de longevidade bem alta.

carasso1Em busca da resposta para esse fenômeno, ele notou que esses búlgaros costumavam tomar leite fermentado com freqüência. A receita da bebida era antiga e eles a chamavam de iogurte. A grande sacada de Mechnikov foi descobrir que esse leite coalhado possuía algumas bactérias capazes de ajudar na regulagem do sistema digestivo.

Isso explicou a longevidade dos búlgaros e ao mesmo tempo deu a Carasso uma ótima idéia: abrir uma pequena fábrica de iogurte. Essa era a melhor maneira de ajudar seus pacientes e ainda ganhar uma grana extra.

Sendo assim, o então orgulhoso pai Carasso, casado há pouco e com filho pequeno, resolveu batizar sua nova empresa com o nome do primogênito, um menino chamado Daniel.

Porém, Carasso não usou diretamente o nome do filho, ele preferiu usar o apelido. Acontece que onde ele morava muita gente falava catalão, um idioma comum em algumas partes da Europa, incluindo o nordeste da Espanha. Nessa língua os garotos chamados Daniel em geral recebem o apelido de Danone.

Curiosidades de Sobremesa

1 – Há outra versão para a origem do termo Danone. Ela afirma que, para criar o nome da empresa, Carasso uniu o apelido do menino (que era dan, e não danone) à palavra one (um, em inglês). O one tem explicação: Daniel foi o primogênito de Carasso, ou seja, o filho número um.

2 – Quer saber mais sobre os casais dink? Leia essa reportagem.

3 – Na época em que Isaac Carasso fundou a Danone o iogurte não era um produto muito conhecido na Europa Ocidental.

4 – Quando o pai ficou idoso, Daniel Carasso assumiu a empresa com muita competência, transformando a Danone numa das maiores companhias do planeta.

5 – Em 1929 Daniel mudou a empresa para a França, país mais desenvolvido na época. Em 1942, por causa da II Guerra Mundial, a Danone teve que mudar mais uma vez, indo para os Estados Unidos. Voltou novamente para a França em 1951.

6 – Nos EUA a empresa se chama Dannon, um termo mais “americano”.

7 – A Danone é a maior fabricante de derivados do leite do mundo.

8 – A Danone é uma das poucas marcas que conseguiu a façanha de transformar seu nome no sinônimo do produto que vende. Com certeza você, quando era pequeno, já disse para sua mãe: “compra um Danone para mim!”. É claro, você pode ter pedido também um Danoninho.

9 – Os búlgaros provavelmente receberam a receita do iogurte dos turcos. Apesar da invenção da bebida não ter uma origem específica, foram eles os primeiros a registrarem por escrito a receita. Tanto que o termo iogurte tem origem na palavra turca yoğurt.

10 – Um dos logos usados pela Danone é composto pela silhueta de um garoto olhando uma estrela. Esse garoto representa Daniel Carasso, o amado filho do fundador da marca.

 
CONSUL – Brasil. Eletrodomésticos. 1950.

Rudolfo Stutzer, um dos fundadores da empresa, precisava de dinheiro para começar seu próprio negócio. Sua intenção era abrir uma oficina na qual ele pudesse fabricar produtos de uso doméstico, uma vez que o mercado brasileiro sofria com a escassez de manufaturas por causa da II Guerra Mundial. Stutzer resolveu então pedir ajuda a um amigo próximo, o senhor Carlos Renaux, rico empresário do ramo da tecelagem. Renaux era conhecido por ter recebido o título de cônsul honorário do Brasil em Arnheim, na Holanda. Depois de ser agraciado com essa honraria, ele passou a ser chamado apenas pelo apelido “cônsul”.

renaux1Quando Stutzer abriu seu pequeno negócio com o dinheiro emprestado por Renaux, pôs a marca Consul em todos os produtos que fabricava. Foi a forma que ele escolheu para homenagear a pessoa que o apoiou. No entanto, a grande fabricante de eletrodomésticos que conhecemos hoje ainda não existia. Ela começou a ser concebida quando Stutzer recebeu em sua oficina uma geladeira quebrada. Naquela época esse tipo de conserto era difícil, pois os refrigeradores eram importados. No entanto, depois de desmontar e esmiuçar as peças do aparelho, Stutzer e outros dois amigos (Guilherme Holderegger e Wittich Freitag) perceberam que eram capazes de fazer um igual. O resto é história.

Curiosidades de Sobremesa

1 – A Consul foi a primeira empresa brasileira a fabricar uma geladeira.

2 – A marca Consul não possui acento, ao contrário da grafia do substantivo cônsul. A explicação é simples: depois da construção da primeira geladeira, os fundadores da empresa concentraram-se em identificá-la. Pegaram então o nome cônsul e tentaram esculpi-lo em madeira, para que posteriormente fosse colado na porta do refrigerador. Eles usaram uma serra tico-tico no trabalho, que se mostrou perfeito, exceto pela dificuldade de se esculpir o acento circunflexo da palavra. Diante do problema, ficou decidido que a marca não teria acento, escolha que persiste até hoje.

3 – “Põe na Consul” é um dos slogans mais conhecidos da publicidade brasileira. Diz a lenda que a criação da expressão aconteceu durante um reunião de publicitários. Eles já estavam há horas procurando um slogan, quando resolveram parar para descansar. Um deles disse: gente, vamos parar para esfriar a cabeça, depois nós voltamos. Um outro publicitário fez uma brincadeira, dizendo: é, põe a cabeça na consul. A piada então inspirou o slogan.

4 – Outra teoria diz que eles simplesmente pegaram a expressão “põe na geladeira”, usada na época para se referir a um assunto que deveria ser deixado para depois. Só trocaram a palavra geladeira por consul.

5 – A fábrica de tecidos de Carlos Renaux funciona até hoje. Eles têm também uma marca de roupas chamada Renaux Blue Label.

 

FIAT LUX – Suécia. Fósforo. 1950.

luxA Gênesis é o primeiro livro do Velho Testamento, parte da Bíblia na qual são tratadas as origens do universo e do ser humano, entre outros. Lá está escrito o seguinte, no primeiro capítulo, do versículo número 1 ao número 3:

No princípio criou Deus os céus e a terra. A terra era sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas. E disse Deus: haja luz. E houve luz.

Se você está perdido por causa dessa introdução religiosa, saiba que o nome da nossa terceira marca de hoje foi criado por Deus, isso se levarmos a coisa na brincadeira. Fiat lux é uma expressão em latim que significa “faça-se a luz” ou “haja a luz”, assim como o Criador falou pouco depois de iniciar sua obra. Na verdade, o nome foi escolhido para fazer analogia com o seu produto, os fósforos com cabos longos produzidos pela empresa sueca Swedish Match. Nada mais apropriado, não é verdade?

Curiosidades de Sobremesa

1 – O isqueiro foi inventado antes do fósforo.

2 – Por mais incrível que pareça, não há presença do elemento químico fósforo ou de pólvora na mistura inflamável da ponta do palito. Aquilo é cloreto de potássio, uma substância que reage de forma muito violenta com o oxigênio. Fósforo mesmo você encontra naquelas pequenas lixas, localizadas nas laterais das caixas que guardam os palitos. Quando esses dois elementos entram em contato, inflamam e surge a chama. Por isso é tão difícil riscar o palito em qualquer outra superfície, mesmo ela sendo áspera.

3 – Você já deve ter visto em algum filme de cowboy o cara riscando o fósforo na parede. Esse é um tipo diferente. Nele há, bem na ponta do palito, uma pequena quantidade de cloreto de potássio que permite riscar em qualquer lugar.

4 – Se quiser tirar onda, continue a chamar a embalagem de “caixa de fósforo”, mas passe a chamar o palito de “palito de cloreto de potássio”.