Leitoras e leitores.
De acordo com as sugestões recebidas nos comentários, resolvi experimentar um post temático do Dicionário das Marcas. Por isso hoje veremos aqui cinco histórias de cinco marcas diferentes, no entanto do mesmo segmento (pneus). É um teste, não será sempre assim, mas se vocês gostarem de vez em quando teremos esse tipo de edição extraordinária do DM.
Obrigado!
Eduardo Nicholas
GOODYEAR – Estados Unidos. Pneus. 1898.
O veículo com motor de combustão interna é uma invenção bastante complexa, uma prova da engenhosidade humana. Tem milhares de parte diferentes, cada uma tendo que funcionar em perfeita harmonia com a outra. O resultado é a produção de uma força imensa, capaz de levar um carro a grandes velocidades.
Porém, todos esses atributos não valeriam nada não fossem alguns pedaços circulares de borracha. E isso não vale apenas para os automóveis. Praticamente todos os meios de transporte humanos dependem do uso de pneus, sejam Ferraris, bicicletas ou jatos supersônicos.
O uso da borracha natural em carroças já havia sido tentado anteriormente, mas esbarrava em um problema sério: o material, quando usado em trabalhos mais intensos, se deteriorava muito rápido. Deste modo, em seu estado natural, não poderia constituir pneus, produtos que precisam ser bastante resistentes.
A solução para este problema surgiu em 1839 com um homem chamado Charles Goodyear. Foi ele o responsável pela criação do processo chamado de vulcanização, aquele que, por meio de alta temperatura, grande pressão e um pouco de enxofre, transforma a borracha num material mais durável.
Goodyear inventou a borracha vulcanizada, no entanto isso ainda não era suficiente para criar a indústria de pneus. É claro, agora o material era bem resistente, mas faltava um algo mais.Quem fez essa última contribuição foi o inglês Robert Thompson. Em 1845 ele pegou uma borracha bem fina e encheu de ar, criando a primeira câmara. Acontece que Thompson não era muito bom de negócio e sua invenção acabou no esquecimento.
Quase quatro décadas depois o veterinário John Boyd Dunlop voltou ao tema por causa de seu filho. O garoto tinha um triciclo, mas o brinquedo tinha rodas de madeira e batia muito. Para deixar a brincadeira mais divertida, Dunlop fez a mesma coisa que Thompson, encheu uma câmara de borracha com ar.
A diferença dos dois casos é que Dunlop tinha uma ótima visão de negócio. Rapidamente abriu uma empresa para comercializar a invenção que pensava ser dele. Mais tarde o engano foi desfeito, mas a essa altura o veterinário escocês já tinha ganhado uma grana.
Finalmente a base técnica para a construção dos pneus automotivos estava feita.
Surge então o fundador da nossa empresa, o senhor Frank Seiberling. Aos 38 anos de idade ele pegou uma grana emprestada com o cunhado e abriu uma fábrica de pneus para bicicletas e carroças.
Em homenagem à contribuição de Goodyear, ele batizou seu novo empreendimento com o sobrenome do inventor.
Curiosidades de Sobremesa
1 – O termo vulcanização foi criado por Goodyear, que se baseou no nome do deus romano do fogo, Vulcano.
2 – No logotipo outra menção mitológica. Na marca há um pé, calçado numa sandália, e com uma pequena asa saindo do calcanhar. Trata-se do pé de Mercúrio, deus romano que, entre outros, estava associado à atividade dos comerciantes e dos mensageiros.
3 – O dirigível da Goodyear é uma das melhores ferramentas de mídia da marca. Criado em 1911, ele viaja o mundo fazendo publicidade para a empresa, geralmente associado a eventos esportivos.
FIRESTONE – Estados Unidos. Pneus. 1900.
Harvey Firestone era empregado da Columbus Buggy Works, uma empresa que fabricava carruagens. Eram tempos promissores, pois a invenção dos pneumáticos estava ajudando a criar carroças mais confortáveis e, naturalmente, mais vendáveis.
Na mesma época, quase na virada do século XIX, Henry Ford trabalhava na construção de seu primeiro automóvel. Ford tinha usado pneus de bicicleta para sustentar o carro, mas isso não era suficiente, a estrutura era muito leve e não resistia ao peso.Henry então procurou Harvey e lhe pediu que usasse sua experiência com carroças para construir um pneu mais sólido e durável. O protótipo foi entregue e funcionou bem, fazendo com que Firestone notasse que cavalos puxando carruagens eram coisas do passado. Pouco tempo depois ele abriu sua própria fábrica de pneus e passou a distribuir os produtos para os carros Ford.
Curiosidades de Sobremesa
1 – A Firestone surgiu na mesma cidade que a Goodyear.
2 – No meio da década de 70 a empresa entrou em crise após fabricar um novo pneu radial de baixa qualidade. Pode-se dizer que esses problemas nunca foram superados, tornando a venda da fábrica inevitável. E quem comprou a Firestone?
BRIDGESTONE – Japão. Pneus. 1931.
O japonês Shojiro Ishibashi ganhava a vida fazendo solas de sapato. Dava dinheiro, mas naquela época Ishibashi achou que seria mais jogo mudar de ramo e passar a fabricar pneus para carros, um novo segmento comercial que crescia a cada dia no Japão. Assim que esse novo rumo foi tomado, o empresário procurou um nome mais apropriado para a companhia.
A inspiração veio de seu próprio sobrenome. Ishibashi, em inglês, transforma-se em bridge of stone, ponte de pedra, em português. Shojiro ainda tinha a sorte de ser essa sua nova marca muito parecida com a da Firestone, uma companhia americana muito conhecida, também fabricante de pneus.Curiosidades de Sobremesa
1 – Coincidentemente a Firestone foi comprada pela Bridgestone em 1988.
2 – A Bridgestone é a segunda maior fabricante de pneus do planeta, atrás apenas da Michelin.
3 – Até 2010 a empresa será a única fornecedora de pneus para os carros da Fórmula 1.
MICHELIN – França. Pneus. 1888.
Os irmãos Edouard e André Michelin assumiram a fábrica do avô sem muita perspectiva. O primeiro tinha estudado pintura na faculdade, enquanto o segundo, apesar de ter um curso de engenharia, à época estava envolvido com arquitetura.Mas não teve jeito, a empresa do avô precisava de alguém de confiança para continuar produzindo seus diversos utensílios de borracha.
Certo dia entra na fábrica um ciclista reclamando que o pneu da sua bicicleta furava com freqüência e cada conserto demorava um dia para ficar pronto. Os irmãos detectaram ali o problema e passaram imediatamente a buscar a solução.
Surgia assim o chamado pneu desmontável, muito mais fácil de ser consertado e bastante econômico na hora de ser produzido. A invenção fez sucesso, indo parar em carroças e mais tarde em veículos motorizados. Ela deu aos Michelin muito dinheiro e a oportunidade de investir em diversos ramos de negócio.
Foram muitos segmentos diferentes, desde aviação até turismo, com o famoso Guia Michelin.
Em 1949 a empresa revoluciona o mercado mais uma vez, apresentando ao mundo o pneu radial. A invenção trazia uma nova maneira de trançar os fios que compunham a estrutura do pneu, dando-lhe mais resistência e estabilidade. O salto tecnológico do radial fez com que a Michelin deixasse os concorrentes para trás, colocando a empresa por muito tempo como líder mundial na fabricação de pneus.
Curiosidades de Sobremesa
1 – Para entender o mascote da empresa, primeiro vamos falar de uma palestra que André Michelin fez durante uma conferência para engenheiros. Na ocasião o empresário falava sobre a capacidade dos pneus em passar por obstáculos. Podiam passar sobre vidro ou pedras, nada disso os impedia. André falou então, tentando exemplificar, que o pneu “bebe os obstáculos”.
2 – Passado algum tempo, os irmãos Michelin visitaram uma feira de comércio a qual incluía empresários do ramo de pneus. Bem na entrada havia uma pilha do produto organizada em diversos tamanhos, num formato que lembrava um tronco humano. Edouard vê aquilo e comenta com o irmão: caramba, se a gente colocasse uns braços e umas pernas isso ficaria um boneco certinho!3 – Mais um tempinho depois Edouard visita um desenhista amigo seu chamado Marius O’ Galop. De farra, O’ Galop tinha desenhado um cara gordo tomando uma bela caneca de cerveja. Acima da cabeça da personagem estava escrito em latim nunc est bibendum (está na hora de beber). Edouard lembrou da frase do irmão durante a conferência e associou a figura do homem gordo à pilha de pneus.
4 – Estava criado o Bib, mascote da companhia. Usado em diversos cartazes publicitários, ele sustentava orgulhoso o lema em latim afirmando que poderia “beber” qualquer obstáculo sem correr o risco de estourar.
5 – Mas por que esse nome? Porque certo dia, durante uma corrida, um dos pilotos viu André Michelin passar e disse: olha lá o bibendum!
PIRELLI – Itália. Pneus. 1872. O milanês Giovanni Battista Pirelli era um empreendedor daqueles. Em 1872 seu pioneirismo o levou a abrir uma fábrica de pneus e fios, na época um segmento de produtos ainda muito novo. Na visão de Pirelli, a borracha era uma mina de ouro numa Itália que ainda se desenvolvia.
Com um bom capital no bolso, ele contratou 45 empregados e começou o negócio. Os cabos e outros artigos sustentaram primeiramente o empreendimento, mas o crescimento da indústria automobilística italiana ajudou a empresa a se firmar no mercado, tornando-a uma das maiores do mundo no ramo.
Curiosidades de Sobremesa
1 – “Potência não é nada sem controle”, mais um slogan “porrada” da publicidade internacional.
2 – Criado em 1964, o Calendário Pirelli é quase tão famoso quanto a marca em si. Sua edição anual traz fotos das mulheres mais belas do mundo, todas geralmente vestindo pouca roupa.
3 – As fotos da versão 2005 do calendário foram tiradas no Rio de Janeiro.
4 – A Pirelli é a marca de pneus mais lembrada no Brasil.
5 – Coincidência pura: todas as marcas de pneus mostradas aqui hoje tiveram origem no sobrenome de alguém.