“Éramos caçadores e coletores. A fronteira estava por toda parte. Éramos limitados apenas pela Terra, pelo oceano e pelo céu. A estrada aberta ainda nos chama suavemente. O nosso pequeno globo terráqueo é o hospício dessas centenas de milhares de milhões de mundos. Nós, que não conseguimos pôr ordem sequer em nosso planeta natal, dilacerado por rivalidades e ódios, vamos nos aventurar pelo espaço? Quando estivermos preparados para colonizar sistemas planetários próximos, teremos mudado. A simples passagem de tantas gerações nos terá mudado. A necessidade nos terá mudado. Somos uma espécie adaptável. Não seremos nós que chegaremos à Alfa do Centauro e às demais estrelas próximas. Será uma espécie muito parecida conosco, com mais virtudes e menos fraquezas que nós. Mais segura, previdente, capaz e sensata. Apesar de todos os nossos fracassos, a despeito de nossas limitações e falibilidades, somos capazes de grandeza. Que novas maravilhas, jamais sonhadas em nossos tempos, teremos elaborado em mais uma geração? E em outra mais? Até onde nossa espécie nômade terá errado no final do próximo século? E do próximo milênio? Nossos descendentes remotos, estabelecidos com segurança em muitos mundos pelo Sistema Solar e mais além, serão unidos pela sua herança comum, pela sua consideração para com o planeta natal e pelo conhecimento de que, sejam quais forem as outras formas de vida possíveis, os únicos seres humanos em todo o Universo vêm da Terra. Erguerão e forçarão os olhos para descobrir o ponto azul no céu. Ficarão maravilhados ao perceber como era outrora vulnerável o repositório de todo o nosso potencial, como foi perigosa a nossa infância, como foram humildes as nossas origens, quantos rios tivemos de cruzar antes de encontrar nosso caminho”.
– Carl Sagan, “Pálido Ponto Azul”
Vídeo de Michael Marantz com narração do próprio Sagan. [via Massa Crítica]