Olá pessoal!
Posso dizer que as duas marcas de hoje estão bastante contextualizadas. A primeira é a Vick VapoRub, uma homenagem à gripe que me derrubou esse fim de semana (espero que não seja H1N1!). A outra é a da gravadora Motown, a qual descobriu e lançou a banda Jackson 5, aquela que tinha como principal vocalista o tal Michael Jackson, enterrado hoje depois de um funeral show.
Aproveitem!
Eduardo Nicholas
VICK VAPORUB – Estados Unidos. Ungüento. 1912.
Não é de hoje que a desgraça de uns torna-se a fortuna de outros. Veja o caso do farmacêutico Lunsford Richardson e de seu cunhado, o Doutor Joshua Vick. Em 1890 os dois começaram um negócio próprio, uma pequena fábrica de ungüentos que prometiam combater os sintomas de pneumonias e resfriados, em especial a congestão nasal. Nessa época o Dr. Vick já era bem conhecido no estado da Carolina do Norte em virtude de seu grande conhecimento médico.
Seu cunhado sabia disso e sua idéia era exatamente associar a fama do Dr. Vick aos produtos que seriam vendidos por sua marca. Assim surgiu o Vick’s Family Remedies, um empreendimento familiar dos mais modestos. No entanto, se Joshua era bom médico, Lunsford não ficava atrás como farmacêutico. Os primeiros produtos desenvolvidos por ele realmente eram eficazes, fato que cativou muitos consumidores da região.
A empresa era próspera, porém ainda não tinha fama. Isso começou a mudar em 1905 com a chegada de um novo produto, resultado dos anos de experiência na área. Ele se chamava Vick’s Magic Croup Save, usado para curar dores de garganta e obstrução nasal. Seu modo de usar era simples: o paciente poderia misturar com água quente e inalar o vapor ou simplesmente passar no peito.
Rapidamente o novo ungüento ficou famoso. Sete anos depois, como uma forma de diminuir o nome da marca e assim torná-la mais fácil de ser divulgada, a empresa trocou a denominação da pomada para Vick’s VapoRub, um acrônimo composto por pedaços das palavras inglesas vapour (vapor) e rub (esfrega), referências à sua posologia.
Sim, até aí eles já eram ricos. Em 1917 chegaram a girar 900 mil dólares em um ano, um valor enorme para a época. No entanto, em 1918 veio a desgraça sobre a qual eu me referi no começo: o início nos EUA de uma pandemia que ficou conhecida como Gripe Espanhola. Desgraça para a população, porém uma bela graça para a empresa do Dr. Vick e seu cunhado. O povo procurava os produtos Vick nas farmácias, desesperados para diminuir os sintomas da doença. Sendo assim, se eles tinham fechado 1917 com 900 mil dólares, um ano depois esse valor pulou para quase 3 milhões de dólares!
A fortuna fez com que a empresa passasse a investir em outros produtos, mas a sua famosa pasta friccional sempre foi o carro chefe da companhia. Depois de várias décadas nas mãos da mesma família, em 1985 eles venderam a marca para a Procter and Gamble.
Curiosidades de Sobremesa
1 – Nos EUA o nome é Vicks VapoRub, eles tiraram a apóstrofe para facilitar. Aqui no Brasil, de tanto o povo falar no singular, a empresa cirou uma variação da marca.
2 – A pomada hoje é feita a base de mentol, cânfora e óleo de eucalipto.
3 – Já a primeira fórmula levava também óleo de rícino, mais conhecido como óleo de mamona.
4 – A Gripe Espanhola foi detectada a primeira vez nos Estados Unidos e não na Espanha, como o nome pode nos fazer concluir. Essa denominação foi criada pela imprensa européia, a qual na época vivia sob censura por causa da I Guerra Mundial. Sem poder falar da gripe por causa da advertência do governo de não querer causar pânico, os veículos dos países envolvidos na guerra não falavam nada sobre o assunto. Acontece que a Espanha não participava do conflito e seus periódicos fizeram uma ampla cobertura, dando a impressão de que a gripe surgira lá.
5 – A Gripe Espanhola matou muita gente, mas não se sabe o número correto. Uns dizem 25 milhões de pessoas, outros chegam até os 100 de mortos.
6 – Esse tipo de vírus da gripe foi batizado de H1N1 e sim, ele é a origem tanto da gripe aviária quanto da atual gripe suína.
MOTOWN – Estados Unidos. Gravadora. 1959.
A família de Berry Gordy era só mais uma das que tinham deixado a Geórgia à procura de melhores condições de vida. Foram todos parar em Detroit, cidade dos carros. Berry nasceu lá, sete anos depois da chegada de seus pais ao novo lar. Como não podia deixar de ser, quando cresceu acabou indo trabalhar numa montadora de automóveis.
Porém, Berry queria ficar rico e queria isso logo. Começou a treinar boxe e sonhava em fazer fama e fortuna quebrando a cara dos adversários. Felizmente seus planos foram por água abaixo quando ele foi convocado pelo Exército dos EUA para lutar na Guerra da Coréia. E lá na Ásia algo aconteceu, ninguém sabe ao certo o que foi. O fato é que Gordy voltou mudado, mais introspectivo. Largou o boxe e passou a se interessar por música. Conheceu alguns cantores e logo se firmou como compositor, sendo co-autor de alguns hits modestos nos anos 50.
Entrava um dinheirinho, mas nada da fortuna que ele queria. Por isso Berry passou a investir na produção musical, procurando grupos com os quais ele pudesse se associar e ajudar a alcançar o sucesso. Em 1957 achou o The Miracles, uma das muitas bandas com cantores e instrumentistas negros que faziam sucesso nos Estados Unidos. O pessoal era talentoso e deu um ótimo retorno, capaz de fazer com que Berry pudesse abrir sua própria gravadora. Em 1959 estava criada a Tamla Records, com nome baseado na canção Tammy (na voz de Debbie Reynolds), um sucesso na época. A Tamla lançou muita gente boa e continuou contando com o bom desempenho do The Miracles.
A boa fase estimulou Berry a criar outro selo, o Motown, termo que misturava as palavras da expressão Motor Town (cidade do automóvel), referência à Detroit. O que aconteceu daí para frente é histórico: uma leva enorme de grupos musicais e intérpretes excepcionais passaram a ser descobertos pela Motown. Entre eles Marvin Gaye, The Marvelets, Lionel Ritchie, The Temptations, Stevie Wonder, The Isley Brothers, The Commodores, The Supremes, Jackson 5, entre outros. Esse grupo foi responsável por colocar 110 canções da Motown no Top 10 de mais ouvidas nos Estados Unidos.
O sucesso começou a acabar já na década de 70, mesmo Berry ainda tendo ótimos artistas na lista de músicos. Mais concentrada em produzir filmes com seus astros, a Motown esqueceu do básico e entrou em decadência. Stevie Wonder saiu da gravadora, seguido pelo Jackson 5 em 1975, só para citar dois da debandada. Mesmo em carreira solo, Michael Jackson nunca chegou a gravar com eles. Em 1999 a gravadora foi vendida à Universal Music e jamais voltou a unir sob seu selo o mesmo grupo de notáveis que reuniu de 1959 até meados da década de 70.
Curiosidades de Sobremesa
1 – Michael Jackson apresentou seu moonwalker ao mundo durante a festa show que celebrou o 25º aniversário da Motown.
2 – Alguns críticos dizem que Berry usou seu conhecimento na fabricação de carros para construir bandas de sucesso. Ele era impecável na apresentação do produto e matinha uma espécie de linha de produção de músicos, sempre aproveitando a fama do anterior para apresentar a próxima novidade.
3 – Berry acha os Jackson 5 com a ajuda da cantora Gladys Knight, em 1968. Na época a banda abria shows num restaurante em Chicago. Impressionada com a qualidade do grupo, Knight deu a sugestão para Berry.
4 – O mesmo aconteceu com Stevie Wonder, o qual foi descoberto bem novo ainda. Um primo de um dos membros do The Miracle viu o garoto cantando na rua e falou para Berry. Ele tinha só 11 anos, mas cantava bem demais e fez bastante sucesso.
5 – Concluí-se que Berry não achava nada, não é verdade? Sempre era alguém que dava o toque para ele.
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