Olá pessoal!
A publicidade é má. Foi uma propaganda bem feita que convenceu a maioria do povo alemão a aceitar o assassinato de judeus. O mesmo foi feito com o cigarro, mas nesse caso quem morre é o próprio cliente. Há mais de cinqüenta anos já se sabe que ele faz mal à saúde, desde que a revista Seleções abordou o assunto pela primeira vez. Porém, os fatos nunca alteraram o hábito de fumar. Por isso eu acredito que a publicidade de cigarros é a propaganda em estado puro. Seu grau de persuasão é tal que ela consegue continuar vendendo um produto que mata seus consumidores. É uma influência comparada à política e a religião, não é verdade? Veja hoje aqui no DM como isso é possível.
Aproveite!
Eduardo Nicholas
MARLBORO e LUCKY STRIKE – Cigarros. Inglaterra/EUA. 1847/1871.
A marca de cigarro dos cowboys machões começou sua história (acredite!) direcionada ao público feminino. Em meados do século XIX uma pequena fábrica inglesa passou a produzir cigarros para senhoras, mas o produto nunca fez sucesso. Batizada tendo como referência a rua da sede de sua indústria em Londres (Great Marlborough Street), a marca foi comprada mais tarde pela Philip Morris. A Morris já era uma empresa maior e levou a Marlboro para os Estados Unidos. Novamente tentaram vender a marca para mulheres, porém mais uma vez foi um fracasso.
Trajetória totalmente contrária à da Lucky Strike até então. Lançado na Vírgina em 1871, o cigarro era voltado para o público de aventureiros que iam para o oeste dos EUA em busca de melhores oportunidades. Entre as opções para “vencer na vida” estava a mineração. Várias cidades americanas surgiram depois que minas de ouro foram encontradas, atraindo milhares de pessoas. Motivado por esse contexto, a fábrica batizou seu produto de lucky strike, algo como “encontrar a sorte”. Vale lembrar que o termo em inglês strike, ao ser usado com a palavra gold (ouro), toma o sentido de encontrar.
A Lucky Strike, ao contrário da Marlboro, sempre investiu em publicidade para homens. Inicialmente seu objetivo era mostrar ao consumidor que o gosto de seus cigarros era melhor, algo inovador. Em 1935 passaram a patrocinar um famoso programa de rádio, o qual tornou a marca tão famosa que passou a fazer parte da cultura americana.
Quatro anos mais tarde se inicia a II Guerra Mundial, um bom momento para agarrar grandes oportunidades. Coincidentemente a Lucky Strike troca nessa mesma época o layout da sua embalagem. Inicialmente ela era verde. A cor agradava os homens, mas não as mulheres. Pensando em aumentar as vendas, eles remodelam a embalagem com a ajuda de Raymond Loewy, o mesmo cara que criou o formato da garrafa de vidro da Coca-Cola e o logo da Shell, só para citar duas criações. O conflito começa e a Lucky aproveita, lançando o slogan “Lucky Strike Green has gone to war” para fundamentar a mudança de layout.
E não foi só isso que a Lucky Strike fez durante a guerra. Eles também mandaram maços e maços de cigarros para os soldados e no período pós-guerra lançaram publicidades associando o hábito de fumar à masculinidade. Usando inserções no cinema, rádio e TV, criou-se uma aura em volta do produto e do ato de fumar em si. Você com certeza já deve ter visto um filme no qual o herói fuma um cigarro depois de matar um bandido. Acha que isso não lhe influencia? Um slogan dessa época sintetiza perfeitamente a proposta da Lucky Strike: “Lucky Strike separates the men from the boys…but not from the girls”. Quer apelo maior? Será que os adolescentes da época sentiam vontade de fumar?
Sucesso total para a Lucky Strike, enquanto a Marlboro só olhava e babava. Então eles resolvem seguir a mesma tática e acabam por superar a Lucky no quesito que associava cigarro a macheza.
A história começou a ficar melhor para a Marlboro quando um cara chamado Leo Burnett foi chamado para ressuscitar a marca, deixando-a no estilo da Lucky. Procurando algo que pudesse fazer o milagre, Burnett deu de cara com a capa da revista Life. Nela um cowboy machão fumando um cigarro. Era uma reportagem sobre os cowboys do Texas, nada sobre cigarros. No entanto, a imagem icônica inspirou Burnett, fazendo com que ele lançasse aquela que seria uma das campanhas publicitárias mais bem sucedidas da história da propaganda.
Usando bem a televisão, que crescia vertiginosamente nos EUA, eles pegaram o tema de um famoso filme de faroeste (Sete Homens e um Destino) e colocaram imagens belas de um cowboy fumando enquanto cavalgava. No fim, um sonoro “venha para o mundo de Marlboro”, slogan dos mais conhecidos. Irresistível? Parece que sim, pois desde 1972 Marlboro é a marca de cigarros mais vendidas do mundo!
Curiosidades de Sobremesa
1 – Nem só de publicidade viveu a Lucky Strike. Foram eles os primeiros a produzirem cigarros em grandes quantidades, usando máquinas. Nem preciso dizer que isso barateou o produto e rendeu mais lucros.
2 – O logo da Lucky é conhecido como “Bull’s eye”.
3 – A Camel fez uma trajetória parecida com a Lucky Strike, mas isso é material para outro post.
4 – O nome do cowboy que inspirou a Marlboro Man era Clarence Hailey Long .
5 – Sim, é verdade, três cowboys que fizeram propaganda da Marlboro morreram por causa de câncer de pulmão. Por isso tem gente que chama o cigarro de matador de cowboys.
6 – Se você entende de cinema sabe que o faroeste Sete Homens e um Destino foi inspirado no filme Sete Samurais, do Akira Kurosawa. Alguns negam, mas as semelhanças são maiores que as diferenças…
7 – Quando eu era criança as propagandas da Marlboro ainda passavam livremente na TV de noite. Eu juro, sentia a maior vontade de fumar!
8 – As antigas publicidades de cigarro eram chocantes. Crianças fumando, cigarro para tirar a fome e até associações que diziam que fumar fazia bem para a saúde.
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