Algum tempo atrás um leitor aqui do site entrou em contato comigo por e-mail, perguntando minha opinião sobre scans de hq´s. Sinceramente não me sinto muito confortável para dar um parecer sobre isso, até por ser um assunto relativamente novo e que pode causar mudanças na maneira como consumimos quadrinhos. A principal conduta que procuro ter é: se é algo que não foi publicado e não tem previsão para tanto em bancas brasileiras, baixo, leio, recomendo (ou não) e até passo os links. Mas acho um pouco complicado incentivar o download de algo que está ali, tão perto, em uma banca, esperando para ser folheado. Não sou contra os scans, muito pelo contrário, eles servem pra se atualizar em uma cronologia complicada nas revistas de série, ou para entrar em contato com um material bacana sem desenbolsar os R$50,00, R$60,00, muitas vezes pedidos por um encadernado de material inédito. Afinal como vou saber se vale a pena? –Baixo uma edição e se me interessar compro a revista, afinal nada se compara a ter uma edição em mãos, sem o brilho da tela do PC, podendo levá-la para todos os lugares e ler quando bem entender. Os scans podem tanto ser um meio de divulgação perfeito para quadrinhos, como também podem representar a ruína da indústria, tudo depende de nossa responsabilidade com o trabalho autoral.
O próprio S&H divulga e coloca na vitrine os scans, fazendo com que muita gente seja apresentada a quadrinhos fantásticos que estão sendo publicados aqui, como Y – The Last Man e Walking Dead, também traz quadrinhos que hoje só são encontrados em sebos. Mas muita coisa boa vem sendo republicada em encadernados e especiais e por isso, volta e meia, vou fazer aqui alguma indicação de leitura de material antigo (e bom) e que você pode encontrar em qualquer banca ou loja de quadrinhos. E esse é o caso de Batman – O Messias (Batman – The Cult).
Uma das melhores séries do homem-morcego dos anos 80, O Messias, de Jim Starlin e Berni Wrightson, lembra muito a estética que Frank Miller adotou em Cavaleiro das Trevas, utilizando muito a TV como forma de representar a sociedade e seu descontentamento com a violência e a polícia. Aqui Batman se torna muito mais humano e falível, sendo capturado pelo líder de uma seita religiosa que deseja tomar o poder de Gotham fazendo o que a polícia não faz: limpar a violência das ruas assassinando marginais. Depois de sofrer lavagem cerebral através de drogas e privações físicas, Batman cede e acaba se juntando aos seguidores do diácono Joseph Blackfire. A representação das alucinações do homem-morcego, e sua luta interna para retomar seu livre-arbítrio são incríveis, melhor até do que o embate entre o herói e seu antagonista. Aqui Batman conta ainda com a ajuda do segundo Robin, Jason Todd, em uma de suas últimas (e melhores) aparições ao lado do mascarado.
Publicada originalmente em 4 edições nos Estados Unidos e também no Brasil, pela Editora Abril, a série ganha agora uma republicação em volume único pela Panini no título Grandes Clássicos DC. Capa cartonada, 204 páginas e papel especial por R$25,90. Esse vale a pena colocar na prateleira.Um abraço,
Marton Santos
Na próxima coluna: Batman e Robin e a polêmica da homossexualidade nos quadrinhos. Sedução dos inocentes ou simples paranóia Macartista?