Ontem a BBC Brasil publicou um interessante artigo sobre a corrupção no dia a dia do brasileiro. Pequenas atitudes praticada por nós, o brasileiro comum, esporadicamente ou não, em nosso dia a dia. Praticada pelos mesmos brasileiros que se mostram revoltosos quando são informados sobre mensalão, desvio de verba, reajustes exorbitantes que os políticos aplicam aos próprios salários, vendas de sentença pelo Judiciário… Porém essa mesma horda de revoltosos, por hipocrisia ou suposta inocência, costuma achar natural pagar um cervejinha para o guarda não aplicar uma multa, furar uma fila, falsificar uma carteirinha de estudante para conseguir descontos, roubar TV a cabo ou furar filas.
Um exercício muito simples para testar seu grau de corrupção pessoal é pergunta a si mesmo se um amigo fosse eleito para um cargo político em sua cidade e te oferecesse um salário em seu gabinete de R$5.000,00, onde você ficaria com R$3.000,00 e repassaria R$2.000,00 para ele, como forma de “comissão” por ter te colocado na jogada. Você não precisaria largar seu emprego atual, não precisaria ir realmente passear ou matar o tempo em seu gabinete. Tudo em off e ninguém ficaria sabendo. VOCÊ ACEITARIA A PROPOSTA?
Na verdade nem acredito que nós, brasileiros, sejamos naturalmente mais corruptos que um alemão ou neozelandês. Acredito sim que vivemos em um cenário e um cotexto que estimula e fomenta a corrupção. Imagina fazer a tal proposta dos R$3.000,00 para um pai que sustenta sua família com menos de 2 salários mínimos/mês. Será que seria válido exigir que ele abrisse mão de dar um pouco mais de qualidade de vida a sua família em nome da ética, da moral e dos bons costumes?! E para o motoboy que esqueceu a CNH em casa, foi pego em uma britz, ganha 650,00 por mês, e recebe a deixa do guarda que se ele pagar o almoço dele daquele dia iria fingir que nada aconteceu e ele pode seguir seu caminho? Situações bem diferentes para um alemão, que por ter um salário justo recusaria sem pestanejar um extra vindo do seu amigo político ou pagaria sem problemas qualquer multa que recebesse.
Nos primeiros parágrafos fica um pouco da minha opinião sobre o tema, pois discutir corrupção neste País não é algo tão simples.
Segue o texto do ótimo artigo da BBC Brasil, feita com a ajuda do promotor de Justiça Jairo Cruz Moreira, coordenador nacional da campanha do Ministério Público “O que você tem a ver com a corrupção”.
Quase um em cada quatro brasileiros (23%) afirma que dar dinheiro a um guarda para evitar uma multa não chega a ser um ato corrupto, de acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais e o Instituto Vox Populi.
Os números refletem o quanto atitudes ilícitas, como essa, de tão enraizados em parte da sociedade brasileira, acabam sendo encarados como parte do cotidiano.
“Muitas pessoas não enxergam o desvio privado como corrupção, só levam em conta a corrupção no ambiente público”, diz o promotor de Justiça Jairo Cruz Moreira. Ele é coordenador nacional da campanha do Ministério Público “O que você tem a ver com a corrupção”, que pretende mostrar como atitudes que muitos consideram normal são, na verdade, um desvirtuamento ético.
Como lida diariamente com o assunto, Moreira ajudou a BBC Brasil a elaborar uma lista de dez atitudes que os brasileiros costumam tomar e que, por vezes, nem percebem que se trata de corrupção.
– Não dar nota fiscal
– Não declarar Imposto de Renda
– Tentar subornar o guarda para evitar multas
– Falsificar carteirinha de estudante
– Dar/aceitar troco errado
– Roubar TV a cabo
– Furar fila
-Comprar produtos falsificados
– No trabalho, bater ponto pelo colega
– Falsificar assinaturas
“Aceitar essas pequenas corrupções legitima aceitar grandes corrupções”, afirma o promotor. “Seguindo esse raciocínio, seria algo como um menino que hoje não vê problema em colar na prova ser mais propenso a, mais pra frente, subornar um guarda sem achar que isso é corrupção.”
Segundo a pesquisa da UFMG, 35% dos entrevistados dizem que algumas coisas podem ser um pouco erradas, mas não corruptas, como sonegar impostos quando a taxa é cara demais.
Otimismo
Mas a sondagem também mostra dados positivos, como o fato de 84% dos ouvidos afirmar que, em qualquer situação, existe sempre a chance de a pessoa ser honesta. A psicóloga Lizete Verillo, diretora da ONG Amarribo (representante no Brasil da Transparência Internacional), afirma que em 12 anos trabalhando com ações anti-corrupção ela nunca esteve tão otimista – e justamente por causa dos jovens.
“Quando começamos, havia um distanciamento do jovem em relação à política”, diz Lizete. “Aliás, havia pouco engajamento em relação a tudo, queriam saber mais é de festas. A corrupção não dizia respeito a eles.”
“Há dois anos, venho percebendo uma grande mudança entre os jovens. Estão mais envolvidos, cobrando mais, em diversas áreas, não só da política.”
Para Lizete, esse cenário animador foi criado por diversos fatores, especialmente pela explosão das redes sociais, que são extremamente populares entre os jovens e uma ótima maneira de promover a fiscalização e a mobilização.
Mas se a internet está ajudando os jovens, na opinião da psicóloga, as escolas estão deixando a desejar na hora de incentivar o engajamento e conscientizá-los sobre a corrupção.
“Em geral, a escola é muito omissa. Estão apenas começando nesse assunto, com iniciativas isoladas. O que é uma pena, porque agora, com o mensalão, temos um enorme passo para a conscientização, mas que pouco avança se a educação não seguir junto”, diz a diretora. “É preciso ensinar esses jovens a ter ética, transparência e também a exercer cidadania.”
Políticos x cidadão comum
Os especialistas concordam que a corrupção do cotidiano acaba sendo alimentada pela corrupção política.
Se há impunidade no alto escalão, cria-se, segundo Lizete, um clima para que isso se replique no cotidiano do cidadão comum, com consequências graves. Isso porque a corrupção prejudica vários níveis da sociedade e cria um ciclo vicioso, caso de uma empresa que não consegue nota fiscal e, assim, não presta contas honestamente.
De acordo com o Ministério Público, a corrupção corrói vários níveis da sociedade, da prestação dos serviços públicos ao desenvolvimento social e econômico do país, e compromete a vida das gerações atuais e futuras.
Fonte: BBC Brasil