De todos os heróis da Marvel, é certo que o “Homem-Formiga” não faz, tecnicamente, parte do hall de estrelas, como aqueles personagens que figuram o imaginário infantil, que despertam o espírito e desejo heroico e que caem no gosto quase instantâneo do público geral. Sua história é mais uma da leva de criações do adorado Stan Lee e de todos os seus trabalhos, este talvez seja um dos que menos se destaca. Até agora.
A Marvel Studios entendeu a forma como deve trabalhar com seus personagens e desde os “Guardiões da Galáxia”, uma das grandes surpresas de 2014, parece ter encontrado a fórmula perfeita para fazer filmes divertidos, um tanto despretensiosos e que agradam diversos nichos simultaneamente.
Com “Homem-Formiga” a história se repete. O estúdio trouxe da estante empoeirada com inúmeros quadrinhos pouco populares o menor personagem de seu leque (literalmente) e conseguiu fazer de uma figura classificada como “underdog”, um herói que abraça sua reputação menosprezada e transforma isso em um trunfo com momentos cômicos tão naturais, que nos indagamos porque demoraram tanto para trazê-lo às telas.
E talvez a resposta a essa pergunta seja respondida com um nome: Paul Rudd. A escolha do ator para interpretar Scott Lang já dava traços do viés optado pelo estúdio quanto à roteirização e tom do filme, mas vê-lo em cena encarando um herói irreverente e que foge os padrões aos quais estamos mais acostumados, é ainda mais saboroso. A princípio, nenhum outro nome vem à mente para fazer com tanta sutileza e leveza o que Paul fez.
Ser um dos quatro roteiristas do filme também fez de “Homem-Formiga” uma produção com a cara do ator. Ele trouxe vestígios do seu humor despretensioso e provavelmente assina as melhores sacadas que vemos em cena. O entrosamento com o elenco é extremamente natural e somos apresentados às figuras caricatas como Luis (Michael Peña), que traz todos os maneirismos e linguajar mexicanos, sendo um dos grandes elos que dita o ritmo do filme.
Ao abraçar as limitações de seu personagem, considerando a opinião pública de que “ele é um herói sem muita moral”, a Marvel traz um equilíbrio, que segue a mesma vertente mostrada anteriormente com “Guardiões”, mas por outra perspectiva. Para que a seriedade das cenas de luta não gerassem sentimentos dúbios naqueles que pouco se apoiam no herói como um personagem forte, o filme contrabalanceia esses momentos, lembrando o espectador que o Homem-Formiga não, necessariamente, precisa ser levado tão a sério, mas ainda assim sustenta lutas impactantes aos nossos olhos.
Para dar sequência nos esforços em unificar todas as histórias trazidas aos cinemas, o Marvel Cinematic Universe (MCU) está ali, nos lembrando de que o estúdio não dá ponto sem nó e que, de fato, os diversos personagens possuem um ponto de impacto em algum momento, aquele encontrão, o famoso crossover. E quando acontece no filme, é revigorante.
Com roteiro bem simples e efeitos especiais poderosos (principalmente nas cenas de ação), “Homem-Formiga” conquista o público com sua naturalidade e humor, à medida que entra para o hall seleto da Marvel como um herói capaz de sustentar sua própria produção sem apresentação prévia em outro blockbuster. Paul Rudd conquista os corações daqueles que ainda não o conheciam, Michael Peña se imortaliza como aquela caricatura fiel e divertidíssima da personalidade latina e o público, mais uma vez, é presenteado com uma ótima experiência no cinema. E para não perder o costume, resista à vontade de ir ao banheiro e espere pelas duas cenas extras nos créditos. Vai valer muito a pena.