Fala pessoal, tudo tranquilo? Aqui quem fala é o Breno do Japão em 2 Minutos. Gostaria de saber de vocês o que vocês gostariam de saber sobre o Japão. Vou selecionar e responder nos próximos JP2M. Essa semana já tem um gravado, só editar e subir no blog pra vocês. Na outra semana sai o vídeo das perguntas.
Fiquem ligados que também por aqui vai rolar o segundo Japão em 2 Minutos Ao Vivo onde vocês irão poder perguntar ao vivo, quando estiver tudo certo, eu aviso vocês aqui. As perguntas do Vídeo de perguntas será por aqui no blog. As perguntas no dia do Hangout, para quem estará vendo no blog, será pelo meu Twitter, quem estiver vendo pelo Youtube, por lá mesmo.
É bem provável que no passado sua família tivesse poucas condições financeiras. Eram muitos irmãos e não seria estranho especular que seus avós deixaram uma cidade do interior para vir morar na capital. Com muito esforço seus pais terminaram os estudos. Compraram um terreno financiado por décadas, construíram uma boa casa tijolo por tijolo. Começaram com um fusca velho e foram trocando de carro até chegar ao belo sedan que dirigem hoje. Com muita dignidade seus pais realizaram o sonho das pessoas que nasceram entre as décadas de 40 e 70 do século XX.
O Brasil era então um país majoritariamente agrário, no qual ter o Ensino Médio completo valia mais que uma faculdade hoje. Possuir bens era algo raro, as coisas eram muito caras. Ter um som, uma televisão ou uma máquina de lavar eram luxos magníficos. Não existia crediário ou cartão de crédito. A carreira profissional era a que aparecia. Buscar sua vocação era uma frescura ridícula, o importante era pôr comida na mesa. Os valores e metas – enfim – eram outros.
Já você nasceu em um contexto bem diferente. Seus pais não tiveram tantos filhos assim e é possível que você tenha estudado em escola particular. Passou a maioria da vida andando de carro e curtiu ganhar um vídeo game no Natal. Escolheu a faculdade que quis, teve a liberdade de buscar o que julgava ser o seu talento. As coisas já eram mais baratas e o seu primeiro carro foi zero ou um semi-novo bem melhor que um fusca. Sua casa foi montada completa, com geladeira, fogão, máquina de lavar e se brincar até um frigobar. E se você ainda não mora sozinho, tudo bem. Hoje é algo muito comum para indivíduos com até 25 anos de idade, mas algo impensável para a época do seu pai.
Dois contextos tão distintos criam naturalmente gerações com visões bem diferentes. Por isso não é surpresa que seu pai se choque ao descobrir o filho planejando gastar 10 mil reais em uma viagem. Não é estranho também que – tendo sido criado sob a influência dos valores paternos – você se sinta mal em discordar do seu pai e dizer: sim, eu vou gastar esse tanto de dinheiro em um bem imaterial.
Eu estava em um dos cafés que margeiam os muros do Vaticano. Faltava cerca de uma hora para a abertura dos portões e o jeito era enrolar por ali. Em uma das mesas um grupo de viajantes conversava animadamente. O tema – como não poderia deixar de ser – era religião. Uma senhora escandinava falou algo interessante:
– Apesar de ser cética, creio que pessoas inteligentes devem se interessar por religião.
Naturalmente senti um desejo de saber mais sobre essa idéia. Já na fila para entrar no Museu do Vaticano me apresentei a ela. Chamava-se Beatrijs e se disse ateia muito tempo antes da atual onda de “conversões” iniciada por Richard Dawkins. Reclamou que a juventude ateísta lhe parecia tão fanática quanto a maioria dos religiosos. Reiterei minha pergunta: mas porque pessoas inteligentes devem se interessar por religião? Ela mandou o seguinte:
O nosso mundo é como aquela fábula dos cegos e do elefante. Um cego toca a tromba e pensa que o elefante é uma cobra. Outro toca as presas e julga ser o chifre de um cervo. No final – apesar de tocarem o mesmo animal – eles crêem que apalpam coisas diferentes, porém estão errados. Com o mundo é a mesma coisa. Ele é grande como o elefante e se tocarmos somente uma parte dele não poderemos entendê-lo completamente. Depois de me debruçar sobre o assunto eu concluí que não creio em um Deus. No entanto, é inegável que qualquer um que queira entender o mundo precisa compreender também o fenômeno religioso. E não se trata de viver uma experiência transcendental. Trata-se apenas de entender um contexto histórico. Veja tudo isso aqui, observe o Vaticano. Aqui está o cerne da civilização ocidental. Como eu posso dizer que tudo isso é uma bobagem?
Beatrijs passou no detector de metais e seguiu com seu grupo. Não a vi mais. O argumento dela me fez pensar em toda a história guardada ali. Imaginei o Michelangelo pintando a Capela Sistina, o enterro de São Pedro e a Guarda Suíça salvando o Papa Clemente VII.
E lá estava eu – na Santa Sé – diante de todas essas possibilidades.