I SP Terror – Festival Internacional de Cinema Fantástico – Parte 2

SP_Terror_posterO I SP Terror – Festival Internacional de Cinema Fantástico de São Paulo foi um sucesso de público e crítica.

Alguns dos filmes exibidos fizeram tanto sucesso que mereciam chegar ao circuito comercial, porém dificilmente estes filmes serão exibidos novamente no Brasil. Resta aos fãs a esperança de que alguns deles sejam lançados por aqui em DVD.

Sua última chance de ver algo no festival foi na cerimônia de encerramento, na última quinta-feira (2 de julho), e a exibição de O Golem (1915) – clássico do expressionismo alemão, com trilha sonora ao vivo do guitarrista Gary Lucas.

Como na primeira matéria, vamos resenhar os últimos seis longas e um curta metragem que conseguimos assistir no festival. Esperamos que no próximo ano, o evento seja ainda maior e tenha mais filmes exibidos por pelo menos duas semanas.

Vamos voltar ao diário de bordo dos filmes que o Sedentário acompanhou:

Segunda-feira – 29/06

Os Descendentes

Dir. Jorge Olguín – 74 minutos

Chile – 2008

Apesar de um trailer interessante e de uma premissa que prometia ser um Extermínio com crianças, Os Descendentes foi a verdadeira bomba do festival. O filme narra a história de uma menina de 10 anos que está atravessando uma cidade para fugir das manifestações de uma estranha epidemia que transforma as pessoas em assassinos canibais descontrolados, mas que não afeta as crianças – que apenas ficam com estranhas marcas no pescoço. Enquanto tudo isso acontece, as autoridades mandaram o exército apagar todo mundo que estiver andando por lá… já que a doença é transmitida pelo ar.

Até ai, tudo bem! O grande problema estava na forma como esta história foi conduzida, vamos começar pelos efeitos especiais. Imagine um filme de “zumbis corredores” feito totalmente com efeitos de computação gráfica de quinta categoria, inclusive a maquiagem dos monstros e o sangue. Tem horas que os infectados parecem mais estar com maquiagem de palhaços de circo do que banhados em sangue. A grande escorregada está nas imperfeições, pois muitas vezes os ferimentos não são bem feitos e desaparecem para voltar depois.

Apesar da tosqueira visual, o filme não seria completamente cansativo se a trilha sonora não fosse recheada de músicas irritantes e a câmera hand-held (quando o cara filma segurando, estilo Bruxa de Blair e Cloverfield) tão mal conduzida que embrulhava o estômago de quem estava assistindo.

Como se isso não bastasse, o elenco é composto essencialmente por pessoas sem o menor talento para atuar. Ou seja, quando não causa constrangimento em quem está assistindo, chega a tirar risadas involuntárias da plateia. Porém, nada disso seria um problema, se a direção tivesse tomado as rédeas e composto cenas melhores, além de comandar as crianças de forma adequada.

Se você achou pouco é por que não sabe ainda o final… no meio do filme, aparecem flashbacks de quando a mãe da protagonista estava morrendo e gritava para a garota ir pro mar. Na última parte do filme, as crianças se encontram com outras que também possuem as marcas no pescoço e querem fugir pro oceano. Porém, o exército descobre o esconderijo e mata todas as crianças exceto a principal e seus dois amiguinhos.

Numa cena que faria até o Ed Wood corar de vergonha, as três crianças chegam ao mar e encontram um polvo gigante que começa a destruir helicopteros do exército. Quando a barra está limpa elas começam a tirar a roupa e correr pro mar… sua pele se torna azulada e as marcas no pescoço revelam ser guelras. Sim, as crianças se tornaram criaturas aquáticas.

Não sei como sobrevivemos a esse filme.

NOTA 0,5 (só porque a cena do polvo foi divertida)

Eden Log

Dir. Franck Vestiel – 98 minutos

França – 2007

Eden Log conta a história de um homem que acorda completamente sem memória no fundo de uma caverna e tenta encontrar a saída daquele pesadelo claustrofóbico. Como se não bastasse estar no meio da escuridão total, o homem tem que fugir de estranhas criaturas mutantes e de soldados que procuram um homem desaparecido.

Durante sua jornada, o homem vai encontrar outras pessoas que vivem em estranhas instalações abandonadas e que fazem de tudo pra sobreviver naquele ambiente inóspito. Aos poucos, o protagonista começa a juntar as peças do quebra-cabeça e percebe que tudo aquilo é uma grande armação para esconder a verdadeira fonte de energia do povo da superfície.

A fotografia do filme é um espetáculo a parte com grandes cenas de pouca iluminação e um tom grafite que vai se diluindo conforme a história é revelada e os personagens começam a sair do fundo da caverna. Muitos críticos compararam esse filme com o clássico “O Cubo”, porém o que poucos comentaram é que o diretor ficou tão obcecado pela fotografia que não deu a devida atenção para o roteiro.

Em alguns momentos do filme, o roteiro fica tão confuso que a história perde totalmente o sentido e apenas o delírio visual (bem no estilo dos videoclipes) é o que realmente interessa. No entanto, as referências ao Gêneses da Bíblia estão em toda a parte e merecem uma atenção especial – afinal ter acesso a árvore do conhecimento é que expulsou o homem do Paraíso.

NOTA 7,5

Bicho

Dir. Vitor Brandt – 14 minutos

Brasil – 2008

Bicho é um dos melhores curtas do evento e mostra a vida de um menino que adora levar animais para sua casa, mas sua mãe sempre dá um fim neles. Até que um dia ele encontra um bicho que não é tão indefeso quanto os outros. Típico caso de “se eu explicar de mais, eu estrago”, veja o filme na íntegra clicando aqui.

NOTA 8,0

Terça-feira – 30/06

Sex Galaxy

Dir. Mike Davis – 88 minutos

EUA – 2008

Segundo seus criadores, Sex Galaxy é o primeiro filme ecologicamente correto da história… afinal, o longa foi produzido através da remontagem do clássico Voyage to the Planet of the Prehistoric Women (algo como “Viagem pro Planeta das Mulheres Pré-históricas). O diretor Mike Davis remontou o filme, que já está em domínio público, e colocou uma nova dublagem e até incluiu cenas de filmes eróticos vintage, propagandas e vídeos de educação sexual.

O que no original era apenas mais um típico filme B de ficção científica se tornou uma devastadora comédia que não dá tempo nem de você terminar de dar risada.

A história mostra um planeta Terra em que pra controle de natalidade o sexo fora do casamento é proibido (afinal depois de casar, ninguém consegue fazer sexo). Mas as regras podem ser quebradas quando um grupo de astronautas é enviado pra  desentupir uma privada numa estação espacial. Os caras aproveitam a viagem pra dar uma rapidinha num planeta prostíbulo habitado pelo robô-cafetão Wron e suas ninfomaníacas desalmadas. Afinal, o novato Billy vai se casar e nada mais justo do que dar uma bela despedida de solteiro pro manezão, mas será que ele vai esquecer o amor da sua vida pra realizar suas fantasias sexuais.

Outras cenas hilariantes são as bizarras ligações que o capitão Giles Grayson recebe de sua esposa neurótica e o constante recurso de repetição de imagens com outras dublagens que criam piadas recorrentes geniais. Nem precisamos dizer que o filme é tão bom que merecia algumas continuações usando o mesmo recurso de edição e dublagem.

Mike Davis também teve seu filme anterior “Pervert!” exibido no festival, mas infelizmente não pudemos comparecer a sessão única.

NOTA 10

Quinta-feira – 01/07

O Gigante do Japão

Dir. Hitoshi Matsumoto – 113 minutos

Japão – 2007

O Gigante do Japão é uma grande homenagem aos filmes de monstro gigante da terra do sol nascente, mas como não poderia ser diferente é recheada de bom humor e cenas pra lá de absurdas.

O longa conta, através de um falso doscumentário, a história de Masaru Daisatô, o último remanescente de uma família de homens capazes de aumentar de tamanho quando recebem uma descarga elétrica. Só tem um problema, ao contrário de seus heróicos antepassados, Masaru é um grande fracassado que só se envolve em lutas armadas e fáceis.

Durante o documentário, descobrimos diversos podres sobre o passado da linhagem do Gigante do Japão, como a morte por overdose de descarga eletrica de seu pai e a senilidade precoce de seu avô pelo uso contínuo deste mesmo recurso. Porém, o passado só não é mais constragedor que o presente de Masaru, que foi abandonado pela esposa e é sumariamente ignorado por sua filha.

No meio desta tragicomédia, o Gigante do Japão tem que enfrentar diversos monstros ridículos que estão atacando a cidade, mas tudo se complica quando ele é surpreendido pelo ataque de um misterioso monstro vermelho que o derrota. Destaque para a cena do menino monstro que é de rolar de rir e para o combate final que tem a participação especial de uma versão genérica da família Ultra.

NOTA 8,5

Deadgirl

Dir. Marcel Sarmiento e Gadi Harel – 101 minutos

EUA – 2008

Provavelmente uma das grandes surpresas do evento, Deadgirl surpreende por ser um típico filme de adolescente, mas carregado de elementos do terror com uma abordagem diferenciada. O longa narra a história dos amigos Rickie e JT que são os maiores fracassados da escola em que estudam, mas que tem suas vidas viradas de cabeça pra baixo quando encontram no porão de um hospital abandonado um garota que não está viva nem morta.

O grande problema começa quando JT começa a abusar sexualmente da garota e descobre que ela não morre, porém Rickie é contra e tenta de todas as formas libertar a selvagem desmorta. O longa lembra bastante as comédias de erros dos irmãos Cohen, pois um simples descuido ou obsessão pode desencadear uma bola de neve de problemas que só vai terminar quando todos estiverem mortos.

Talvez uma das mais inusitadas histórias de zumbi do cinema, mas que deve ser apreciada por todos que gostam do gênero e sentem falta de filmes bem sacados, como Fido e Todo Mundo Quase Morto.

NOTA 8,5

Os Aparecidos

Dir. Paco Cabezas – 107 minutos

Espanha – 2008

Os Aparecidos era um forte candidato ao prêmio de melhor filme na categoria Ibero-americana, mas perdeu na última hora pro petardo nacional Mangue Negro (infelizmente, não conseguimos assistir ao longa durante o festival). Conheça a história de uma casal de irmãos que ao procurar conhecer melhor o passado de seu pai, que está à beira da morte, se envolvem com um misterioso assassinato que ocorrou 20 anos atrás.

Além dos muitos sustos, Os Aparecidos te deixa na ponta da cadeira o tempo todo ao revelar uma macabra história de uma família que morre violentamente pelas mãos de um homem misterioso. O casal de irmãos tem apenas o diário do assassino e muita coragem para tentar desvendar o mistério e quem sabe conseguir salvar aquela família do esquecimento.

Com uma trama extremamente bem construída e um trabalho de direção de dar inveja, Os Aparecidos merece entrar no circuito comercial e ser lançado em DVD por aqui. Pois além de um ótimo filme de terror é uma ótima aula sobre história das ditaduras na Argentina e, por não dizer, de toda a América Latina.

NOTA 10

Palavras Finais

O I SP Terror foi um verdadeiro sucesso e deixou naqueles que participaram a esperança de encontrar um festival de cinema fantástico ainda maior no próximo ano.

Pra finalizar, os vencedores do festival foram Eden Log na categoria Competitiva Internacional, com menção honrosa à Deixe Ela Entrar, e Mangue Negro na categoria Competitiva Ibero-Americana, menção honrosa à Os Aparecidos. Que na minha opinião seriam justamente estes nomes, mas em posições trocadas.

Lembrando que começou neste final de semana o V Fantaspoa, o Quinto Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre… visitem o site para conhecer a programação.

Nos vemos no próximo ano!

Desde garoto sofre com as brincadeiras de seus professores que na hora da chamada insistem na piadinha “é o Júnior da Sandy?”. Otimista de plantão, acredita em duendes e no Brasil sem corrupção. Não ouviu o último do Caetano, mas achou uma merda. Leu todos os clássicos da literatura universal sempre com uma revista de sacanagem aberta no meio. Inventou a vassoura com MP3 player e câmera digital e pretende ficar rico com isso. Pretende fazer um mochilão a pão e água de Mossoró a Sinop no próximo ano. Nunca viu um disco voador e morre de medo de barata, “mas só daquelas grandes que voam”.