A revolução do Quarto Mundo

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Olá, adeptos do sedentarismo! Bem-vindos a mais uma Sarjeta dos Quadrinhos, na qual mostramos as entrelinhas do universo das HQs.

logo-quarto-mundopeqVocê sabia que existe um movimento dos autores nacionais que está revolucionando o mercado nacional de HQs? Fazia ideia de que alguém finalmente estava fazendo boas histórias com ótimos desenhos pra todos os tipos de público? Nem mesmo quando eles ganharam uma série de prêmios da crítica especializada, o nome deles chegou a você?

Se a resposta pra todas essas perguntas for não… você anda meio desligado dos quadrinhos nacionais e provavelmente perdeu alguns dos melhores gibis brasileiros dos últimos anos. Mas não se preocupe, vamos desfazer essa injustiça e te apresentar o Quarto Mundo.


Descobrindo o Quarto Mundo

O Quarto Mundo é um coletivo de quadrinistas brasileiros independentes que se uniram pra resolver uma série de questões que vão além da produção das histórias. Eles busca meios alternativos de divulgação, distribuição, promoção de eventos e edição, que os deixavam até agora em desvantagem em relação às grandes empresas.

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Porém, ao contrário do que se imaginava, dessa união não se formou uma editora, mas um conglomerado de pequenos produtores. Alguns que podem até vir a se tornar editoras, mas sempre estarão se ajudando pra continuarem existindo e com isso fazer seus trabalhos crescerem em público e em qualidade.
homemgrilo42A ideia do coletivo surgiu quando os roteiristas Cadu Simões (Homem-Grilo; Nova Helade) e Leonardo Melo (Quadrinhópole) perceberam os resultados positivos de sua colaboração mútua em trocar suas revistas e distribuí-las nos pontos de venda de suas respectivas cidades.

Percebendo que poderiam trazer mais gente para aquela “brincadeira”, eles chamaram outros amigos quadrinistas de todo o Brasil. Foi assim que eles criaram um Google Groups, inicialmente com uns dez membros, e o número de colaboradores foi crescendo assim como o próprio coletivo.

O nome foi escolhido por Pablo Casado e possui vários significados. Inicialmente, a referência é direta ao Quarto Mundo de Jack Kirby, mas com o tempo o conceito mudou. Segundo Cadu Simões, “também é o nome dado aos países não-independentes como a Palestina ou o Tibete, e até mesmo aos povos marginalizados em outros países de primeiro mundo. O nome precisava representar mais do que um movimento em prol apenas dos quadrinhos nacionais, mas também das HQs independentes em geral”.

“Não vejo muito propósito em homenagear um quadrinista estrangeiro em um agrupamento de quadrinistas brasileiros, mas ele passou a ter novos significados que se resumem em ‘lutar por algo’”, afirmou Daniel Esteves, roteirista da série Nanquim Descartável.

A união faz quadrinhos no Quarto Mundo diadoquadrinhonacionalO grupo conta atualmente com mais de cem membros, entre eles vários vencedores de HQMIX, Angelo Agostini, salões de humor e outras premiações. Uma boa forma de analisar o coletivo é dividindo essa turma em dois grupos de quadrinistas:

– A geração que começou já na atual década e conta com Cadu Simões, Daniel Esteves, Jozz (O Circo de Lucca), Leonardo Melo, Gil Tókio, Edu Mendes (Garagem Hermética), André Caliman, Will, Sérgio Chaves, Alex Mir, Caio Majado, entre muitos outros autores dos mais variados estilos.

– E os autores de gerações anteriores como Laudo, Bira, Sam Hart, Wellington Srbek, André Diniz e José Aguiar.

Alguns deles mais atuantes, outros nem tanto, mas todos de grande destaque no cenário de quadrinhos nacionais.

A divisão de trabalho dentro do coletivo é feita por meio da atribuição de responsabilidades entre os membros de um conselho formado por alguns dos integrantes mais atuantes. Por mais desse esforço conjunto, o coletivo busca construir um mercado de quadrinhos nacionais próprio, que ajuda os autores independentes a encontrarem um espaço para vender e expor suas produções.

Alguns títulos de maior destaque

Vamos fazer uma pequena resenha de alguns títulos de destaque pra mostrar a diversidade de estilos, gêneros e públicos que o grupo tenta atingir. Que vão desde as histórias de aventura aos quadrinhos que falam sobre relacionamentos.

Lembrando que o Quarto Mundo não é uma editora, portanto, eles apenas distribuem o material produzido de forma independente pelos seus integrantes.

Nanquim Descartável

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A série narra as aventuras de Ju (que é toda aloprada e estuda jornalismo) e Sandra (que é toda moderninha e cursa artes-plásticas), duas garotas que moram juntas e fazem HQs. Mas elas estão sempre rodeadas pelo jovem Tuba, um xavequeiro que também faz gibis.

O fato das personagens fazerem quadrinhos é apenas pano de fundo, pois o mote principal é mostrar a vida delas, os dramas pessoais, as situações engraçadas e cotidianas.”

Quadrinhópole

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Esse título é um dos mais interessantes do coletivo e também possui um conteúdo bem diversificado. Segundo o editor Leonardo Melo, o objetivo sempre foi oferecer quadrinhos alternativos com bastante qualidade. Por isso, fogem do convencional gênero dos “super-heróis” e se voltam pra aventura, ficção, horror, suspense, drama e humor.

Depois da Meia-Noite

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A minissérie em três partes faz uma homenagem ao fumetti, o estilo italiano de fazer HQs, e mostra o envolvimento de um serial killer com a detetive que investiga o caso. Por outro lado, mostra os dramas pessoais de diversos personagens secundários ligados que podem ou não estar ligados ao caso. Uma história que te surpreende do começo ao fim e que mostra o lado mais sério do desenhista e roteirista Laudo.

Café Especial

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O conceito inicial era oferecer uma revista que abrangesse vários temas culturais que seriam perfeitos pra discutir na hora do cafezinho. Porém, a revista também traz uma grande diversidade de conteúdos, como quadrinhos, contos, poesia, fotografia, artigos, resenhas de discos de bandas alternativas e muitos outros assuntos. Esta série recebeu muitos prêmios premiado no Brasil inteiro e busca preservar a memória e divulgar a cultura alternativa.

Menino Caranguejo

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O Menino Caranguejo é um gibi infantil feito em papel reciclado que mostra as aventuras de um garoto que possui uma garra de caranguejo que lhe dá poderes. As histórias costumam ter um fundo educativo voltado para o meio ambiente e são influenciadas pela cultura manguebeat.

Avenida

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“A revista é realizada pela reunião de três novos artistas: André Caliman, Rui Silveira e Wellington Marçal. Cada autor apresenta a sua visão de uma avenida que pode ser a sua, a minha, ou a de qualquer um… Essa Avenida é povoada por alguns personagens que vivem diferentes histórias, de diferentes gêneros, mas que, como vizinhos de uma mesma avenida, podem se ‘esbarrar’ a qualquer hora”, resume bem a descrição do site da revista.

Dá pra perceber pela diversidade de títulos que a proposta do Quarto Mundo é atingir também o público geral e não focar apenas nos fãs de histórias em quadrinhos.Todas essas edições e muitas outras pérolas da HQ nacional podem ser encontradas na loja Bodega do Leo, que também é parte do coletivo.
Os efeitos desse novo mundo nas HQs

Fazer uma previsão dos efeitos desse trabalho inovador seria muita pretensão de minha parte (e da deles), mas entre os planos do coletivo está a consolidação do mercado nacional de quadrinhos. Permitindo que as pessoas interessadas em trabalhar com HQs no Brasil tenham um espaço pra aprender a produzir, divulgar e vender seus trabalhos.

Esta foi a maneira mais sincera que encontrei de fazer a minha parte pra que todos os autores brasileiros que são apaixonados pelo que fazem possam um dia ter a chance de ver seu trabalho publicado. Espero ter ajudado alguns dos leitores a encontrar um caminho pra trabalhar com quadrinhos no Brasil.

Desde garoto sofre com as brincadeiras de seus professores que na hora da chamada insistem na piadinha “é o Júnior da Sandy?”. Otimista de plantão, acredita em duendes e no Brasil sem corrupção. Não ouviu o último do Caetano, mas achou uma merda. Leu todos os clássicos da literatura universal sempre com uma revista de sacanagem aberta no meio. Inventou a vassoura com MP3 player e câmera digital e pretende ficar rico com isso. Pretende fazer um mochilão a pão e água de Mossoró a Sinop no próximo ano. Nunca viu um disco voador e morre de medo de barata, “mas só daquelas grandes que voam”.