Jornadas Fantásticas, ou o que Raphael Draccon ainda pode lhe dizer que outros já não tenham dito….

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Nesse exato momento em que escrevo esse post, “Dragões de Éter – Corações de Neve” está entre os livros mais vendidos do Submarino, dentre os mais de 200 Lançamentos nessa época de Natal (que é quando as editoras lançam suas cartadas mais altas).

E por que é importante que eu comece o post de hoje lhe dizendo isso? Vamos lá:

Muitos aqui devem se lembrar daquele post sincero que eu escrevi chamado “Mercado Fantástico, ou o que Raphael Draccon pode lhe dizer que outros escritores já não tenham dito…”.

Naquele texto eu fui sincero sobre os mecanismos do mercado editorial, de uma forma que, ou os aspirantes a romancistas profissionais desistiam de vez ao ler o que eu tinha a dizer, ou se atiravam de cabeça sabendo onde estavam se metendo e com consciência e vigor redobrados.

Logo, naquele texto eu comentei muito mais sobre as partes difíceis e pedregosas dessa jornada, mesmo porque, para a maioria aqui, ela é o que vem pela frente.

Hoje, porém, vou comentar sobre o outro lado e sobre a responsabilidade que envolve estar desse outro lado.

Sim, o mercado editorial é um caminho de paciência e dificuldade extrema. Mas existe um Nirvana se você, tal qual Fernão Capelo Gaivota, souber não apenas voar até lá, como ter coragem de voar até lá.

E entender  o motivo de se aprender a voar.

Logo, hoje eu não vou falar exatamente sobre o mercado fantástico. Hoje eu vou falar sobre o necessário para se trilhar uma jornada fantástica como escritor.

E vou acabar sendo muito sincero mais uma vez.

***

Eu continuo recebendo e-mails de escritores iniciantes. E como disse, isso será uma constância eterna.

Muito poucos conseguirão alguma coisa, poucos dentre esses muito poucos se tornarão dignos de nota a ponto de seu nome se tornar conhecido ou relevante no meio editorial.

Um ou dois dentre esse pouco dentre esse muito poucos se tornarão realmente conhecidos.

Um desses dois irá conseguir viver de literatura.

E a grande questão aqui é: o que faz esse “um” tão diferente dos outros?

Acredite; nem sempre ele será o melhor escritor, o mais rebuscado, o mais culto, o “mais alguma coisa”. E se ele realmente não o for, seu sucesso irá irritar ainda mais aqueles que eram (ou pensavam que eram), e não chegaram lá.

Eu já gastei boa parte da minha vida tentando entender o que faz um escritor de sucesso.

E hoje eu tenho uma resposta: ter uma história e uma filosofia própria de vida que represente o ethos da que ele pretende contar.

Essa afirmação é sincera, caras. Sincera mesmo.

Porque você pode gostar ou não do que eu escrevo, ou do que Thalita Rebouças escreve, ou do que André Vianco escreve, ou do que Augusto Cury escreve; que seja, mas se você for descobrir a história pessoal de vida de cada um até chegar lá, você vai compreender que não tinha como pessoas que arriscaram tudo em uma certeza etérica de que era aquilo que nasceram pra fazer, darem errado. E como cada um desses escritores de fato acredita nas metáforas que existem por detrás de suas histórias impressas.

Tudo começa com uma espécie de chamado. Mas não o de um telefone japonês, mas o de uma voz que só você escuta. Você sabe que é aquilo; que essa ou aquela profissão é o que você sonha para sua vida. Depois você percebe que é o que você realmente quer para sua vida.

Depois percebe que, ou é aquilo na sua vida, ou você já está morto em vida.

Não adianta; você pode se vender para uma profissão que dê dinheiro, mas acabe com a sua saúde. Você pode ter a melhor mulher do bairro, ainda que as amantes lhe suguem o sangue, e ter o carro mais veloz da cidade, mesmo que os radares não lhe permitam ir além dos 80 km/h. Você pode ter filhos lindos com quem converse mais por sms do que pessoalmente.

Entretanto, se você não tiver a chamada paz interna; mas não a paz iluminada dos monges desapegados, mas a paz vívida que só sente o homem ordinário que sabe que não vive uma vida em vão; se você não tiver esse tipo de paz, aí, meu amigo, aí isso irá lhe corroer por dentro e corroer devagar, corroer como o ácido saído da boca de um Alien decepado por um Predador, corroer por anos e anos a fio até se transformar em doenças físicas que lhe prenderão em uma cama e lhe obrigarão a passar o resto da sua vida repensando suas escolhas.

Porque quando o espírito enfraquece, o corpo paga.

Contudo, ao mesmo tempo se você aceitar o chamado, o mundo irá se voltar contra você. Experimente recusar uma convocação dos seus melhores amigos para uma boate no sábado à noite, justificando que você tem de escrever o próximo capítulo de um livro que só você conhece, porque ele só existe no word do seu pc.

E observe bem as expressões deles.

Isso vai se estender para namoradas(os), parentes, colegas de trabalho. É preciso compreendê-los; quando você vence a sua própria resistência e aceita um chamado, isso gera uma censura nas pessoas próximas porque é como se você estivesse eliminando qualquer desculpa que elas já tenham pré-estabelecidos para si próprias para não fazer o mesmo.

Afinal, se você consegue, elas também poderiam.

Só que a vida passa rápido e as pessoas se acomodam. E quando uma pessoa se acomoda – ainda que a rotina a corroa – é difícil para ela se libertar e olhar para a luz, tal qual um sujeito nas sombras de uma Caverna de Platão.

Entretanto, aqui reside a responsabilidade que você tem como escritor, como ser humano, ou como o que quer que seja que você tenha nascido para ser, e saiba que nasceu para ser.

Porque se existe uma maneira de mudar o mundo é através do exemplo.

Sabem, no outro texto eu disse a você que as dificuldades irão lhe tornar mais forte, e que irão lhe ajudar a se tornar melhor. E é verdade. E quanto mais você entra no caminho, mais forte essas provas se tornam. E quando elas batem, elas batem fundo.

Você vai ser humilhado; vão dizer que você é maluco, que você é incompetente, que você não merece e deveria acordar pra vida em vez de sonhar demais. Rapaz, vão lhe dizer tantas coisas. E elas vao doer, essa é a má notícia.

A boa é que logo você vai descobrir que cabe a você acreditar nelas ou não.

A única coisa que é preciso se ter em mente é o seguinte: por que você quer fazer isso? Se desistir é tão fácil, por que sacrificar uma vida por algo que você sente que deve fazer?

Você sabe essa resposta.

Logo, tendo consciência do motivo, isso liberta seu ego porque deixa de existir o deslumbre.

E pergunto aqui: você sabe por que você tem de escrever?

Assim sendo, baseado nessa troca tão sincera que nós temos estabelecido através desse canal de comunicação, eu volto a lhe dizer: existe uma força dentro de você. Uma força criativa, baseada no merecimento e na sinceridade com que você vai manifestá-la. Vão tentar de todas as maneiras lhe cortar essa força dentro de você. Contudo, existe um Nirvana por detrás dela.

O mundo a cada dia assusta mais. Mas o mundo não é assim. O mundo está sendo assim. E o que está sendo, sempre poderá deixar de ser.

E cortando de norte a sul por ele, existe uma trilha de uma jornada fantástica que ninguém pode viver por você. Mas que você pode viver por si.

E ao fim das contas, na hora de enfim se olhar para trás, sobrará em cada um de nós a reverberação do ensinamento de uma fada nascida de um sonho, que molda toda a nossa realidade:

Você tem o mesmo; o mesmo tempo que todos os outros. Uma vida.

Nem mais.

Nem menos…

Mercado Fantástico, ou o que Raphael Draccon pode lhe dizer que outros escritores já não tenham dito….