Crítica “O Agente da U.N.C.L.E.” ≈ Cine Verité por Rafaela Gomes

Uma espécie de crise de identidade paira sobre Hollywood. Nunca vimos tantas produções derivadas de outras surgirem como nos últimos meses. Histórias que já foram contadas e carregam em si o estigma de clássico, mas voltam para as telas pouco a pouco para uma nova geração. Como “donos” (que nós mesmo nos auto-intitulamos) das décadas de 1980 e 1990, dói ver um novo remake, reboot ou spin-off surgir. Sempre paira aquela sensação temerosa de que nada pode superar o que já foi feito. Ou o medo de que isso aconteça de forma que rompa com a nossa ligação com o passado cinematográfico.

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“O Agente da U.N.C.L.E” entra como parte desse imaginário tão bem concebido há décadas atrás, mas que agora encontra um público que, possivelmente, olha para as siglas U.N.C.L.E e é incapaz de tirar qualquer definição além de “tio”. A diferença, é que o produto original não é de um passado recente, tão pouco foi nos apresentado em intervalos de tempo curto, como tem acontecido como a adaptação de Spider-Man. “The Man From U.N.C.L.E” é dos anos 60, época de boa parte dos pais com filhos nascidos nos anos 80/90. Época em que o extinto canal brasileiro TV Excelsior a exibia como parte de sua programação semanal.

E a série de TV se perpetuou, mesmo após seu cancelamento em 1968. Fez uma união improvável no auge da Guerra Fria, colocando norte-americanos e soviéticos como partes de um projeto muito maior que todo e qualquer ego, poderio bélico ou intriga pós Segunda Guerra Mundial: a proteção do mundo. Se apropriando da popularidade dos filmes de James Bond, o cenário hollywoodiano une o amor pela tecnologia ainda precária com bugigangas extravagantes, a beleza e impecabilidade dos agentes secretos e o humor que quase beira ao pastelão de Peter Sellers, com a pitada exata que nos trouxe uma das melhores séries do gênero. O porque dessa vasta introdução? O cineasta Guy Ritchie entendeu que clássicos são inerentes ao tempo, mas que eles sempre podem ser revisitados como se fosse a primeira vez.

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Em “O Agente da U.N.C.LE” temos o mesmo cenário histórico, com o Muro de Berlim dividindo a Alemanha Ocidental da Oriental, dificultando cada vez mais o sonho capitalista de uma parte da nação que permanecera refém do comunismo forçado. O desejo de uma vida próspera no lado de lá do muro une Napoeleon Solo (Henry Cavill), Gaby Teller (Alicia Vikander) e na pior das hipóteses coloca lado a lado como parceiro do alinhado americano, o russo Illya (Armie Hammer). Um plano de fundo caótico que reflete diretamente no plano central. O que poderia dar errado?

Em termos de produção, nada. Se esquivando da mesma premissa que a saga cinematográfica “Missão Impossível” optou, ao ignorar a construção da série original de mesmo nome que perdurou por sete temporadas entre 1966 e 1973, “O Agente da U.N.C.L.E” abraça seu papel histórico que a definiu como um sopro de vida nos tempos de outrora e constrói uma história simples, que consegue ser contemporânea, ainda que o ano seja 1964. Cuidadosamente bem executada, a produção entende o timing exato para o humor entrar em cena, não gerando choques de gêneros que poderiam comprometer o objetivo da trama, que é ser um filme de ação sério. Mas não tão sério assim.

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É uma linha tênue, quase imperceptível que separa filmes de ação escrachados e exagerados de bons filmes de ação leves. Perceber onde está essa delimitação é um desafio muitas vezes fracassado por cineastas. Deu errado em “Homem de Ferro 3”, que na tentativa de ser leve, mas com momentos impactantes, se torna “engraçaralho”, desconstruindo os personagens e a trama a cada cinco minutos e confundindo o espectador, que não sabe muito bem como se portar diante do que lhe é apresentado. “U.N.C.L.E” vai pelo caminho inverso e acerta perfeitamente. Os momentos cômicos trazem o ar contemporâneo do filme, pois são atemporais. A comédia não reside no contexto histórico, não exige do espectador mais despretensioso um conhecimento prévio para de divertir. O cômico vem do viés de Peter Sellers e de seus clássicos como “A Pantera Cor-De-Rosa”: que seja apenas engraçado. Para todos.

Como roteirista, Guy Richie acertou como nunca! Uniu o humor atemporal sem torná-lo pastelão, mantendo a autenticidade do filme como sendo do gênero de ação. Não há desconstrução, tão pouco confusão. Você ri, sabe porque está rindo, mas continua levando o filme a sério. As rápidas cenas de ação, bem arquitetadas e coreografadas, sustentam isso, ao lado do cenário histórico que é extremamente sério.

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Sacerdote da Santa Igreja do Culto ao Nintendinho, Ryu se declara um rapaz casto e introvertido, no fundo desculpas para seus constantes fracassos com as mulheres. Adora surfar, mas não sabe nadar e sonha em conhecer uma praia. Ex-modelo, ex-feirante, ex-atriz, ex-torcedor do Mixto, Evel na verdade é um extraordinário colecionador da série telecurso 2º grau, sabe de cor e salteado todas as lições de química e marcenaria contemporânea. Amante da boa cozinha, não dispensa um churrasco de gato no boteco da Zuleide. Adora aventura e sempre que pode arrisca-se no truco indoor, desde que o ambiente seja refrigerado. "Onde há flor não há envido!"