Olá pessoal!
Já falamos de cigarros e armas. O que falta agora? Parafraseando Homer Simpson, falta falar do álcool, a causa e a solução de todos os problemas da vida! Eu pensei em tratar de vinhos ou cerveja, mas como a coisa toda veio seguindo uma linha cowboy (Marlboro, Colt), então eu resolvi falar de uísque. E dessa vez não entrarei em polêmicas! Só deixarei no ar a pergunta: se umas drogas são legalizadas, por que outras não?
Aproveitem!
Eduardo Nicholas
JOHNNIE WALKER – Escócia. Uísque. 1820.
John Walker se viu sozinho no mundo aos 15 anos, logo após a morte de seu pai. A família tinha uma fazenda, mas Walker não podia cuidar da propriedade, pois lhe diziam que ele era muito jovem. No entanto sua pouca idade não o impediu de vender as terras e usar o dinheiro para abrir uma pequena mercearia. Lá ele vendia de tudo, bem no estilo secos e molhados. Para complementar a renda, John começou a produzir uísque em uma destilaria improvisada. Os clientes gostaram muito da bebida, que acabou ganhando naturalmente o nome de Johnnie Walker, apelido de John. Em 1852 uma enchente destruiu a loja de Walker. Seus filhos Alexander e George aproveitaram o gancho e o convenceram a abandonar a mercearia. Os dois viam no uísque a melhor oportunidade de fazer um negócio realmente lucrativo. Sua estratégia foi clássica: investir no aprimoramento do produto e depois fazer boa propaganda.
Depois de quase dez anos de pesquisa surgiu o Walker Old Highland Whisky, uma combinação de 40 tipos de maltes escoceses, mais leve que as bebidas da época. O líquido envelhecia por 12 anos em barris e era destinado a quem podia pagar por todo esse tempo de investimento.
O sucesso inicial do que seria o correspondente ao atual Black Label estimulou os irmãos Walker a procurar uma clientela mais ampla. Já era o início do século XX quando eles decidiram lançar um uísque mais simples, no entanto sem perder a qualidade. Surgia o Red Label, envelhecido oito anos. Nessa época o filho de Alexandre já liderava a empresa e pôde contribuir significativamente com seu desenvolvimento.
Os Walker tinham uma excelente bebida, mas foi a propaganda que os mostrou ao mundo. A primeira ação foi diferenciar o produto. Já no lançamento do Black Label eles introduziram uma garrafa quadrada, a qual não levava um rótulo reto como os outros uísques, porém um rótulo colado com 24 graus de inclinação.
Mais tarde, contemporâneo ao Red Label, surgiu o símbolo da marca, o desenho do Striding Man. A idéia era fazer um desenho que mostrasse um homem andando impetuosamente. A primeira versão mostra um cavalheiro muito bem vestido, uma forma de associar a marca às pessoas ricas e pragmáticas. Curiosamente só no ano 2000 a empresa inaugurou o famoso slogan Keep Walking, com propagandas que passavam o conceito de perseverança. Antes disso a frase fazia uma simples menção à idade do uísque (Born 1820 – still going strong).
Curiosidades de Sobremesa
1 – A Johnnie Walker foi responsável por popularizar o uísque que bebemos hoje. A bebida original escocesa era muito forte e não costumava agradar o gosto de pessoas de outros lugares.
2 – Os rótulos mais conhecidos da empresa são o Red Label (8 anos), Black Label (12 anos), Green Label (15 anos), Gold Label (entre 15 e 18 anos) Blue Label (não declarado, no entanto certamente mais de 21 anos).
3 – Eu acho as propagandas com o slogan Keep Walking muito motivacionais. A pessoa fica mais forte diante dos problemas, não é verdade? Perdeu o emprego, a mulher, bateu o carro? Keep walking!
4 – As diferença nas cores dos rótulos também faz parte da boa estratégia de marketing da empresa. Essa busca pela diferenciação fez da Johnnie Walker a companhia que mais vende uísque no mundo.
JACK DANIEL’S – Estados Unidos. Uísque. 1866.
Jasper Newton Daniel era filho de um pastor. Seu pai, apesar de religioso, gostava muito de beber uísque. Tinha até uma destilaria particular para fabricar a bebida. É claro, não ficava bem para um pastor um hábito desses. Apesar de todos saberem que Jesus bebia vinho e até tinha feito milagres nesse sentido, o pai de Jack (assim ele era conhecido) preferiu abrir mão do costume. Sendo assim, resolveu parar de beber e deu ao filho a destilaria de presente.Três anos depois, ao dezesseis, Jack já era mestre em destilar. Usava água pura que brotava numa caverna próxima e grãos selecionados, produzindo uma bebida muito boa, amadurecida em barris de carvalho. Jack era absolutamente neurótico com a qualidade de seus produtos. Criou um processo inovador: passar a bebida por uma camada de carvão, uma forma de melhorar o gosto. É claro, era marketeiro também. Imitou a garrafa quadrada da Johnnie Walker e criou um abrangente sistema de distribuição de sua mercadoria.
Inventou um misterioso “Old Nº 7” e colocou no rótulo, uma denominação desconhecida, da qual nunca se explicou, mas que existem diversas teorias (veja nas curiosidades). Aliás, tudo da Jack Daniel’s está envolto em dúvidas, até mesmo se foi ela ou não a primeira destilaria registrada dos EUA.
Com a chegada da Lei Seca Jack tentou de tudo para escapar das restrições, porém teve que mudar de ramo. Nesse período ele passou a bola para um dos seus sobrinhos, o esforçado Lemuel Motlow. O garoto era sagaz e agüentou bem os anos de aperto. Quando voltou a produzir novamente, lembrou-se de continuar a investir na qualidade e no marketing, fazendo a marca chegar tranqüilamente até os dias de hoje.
Curiosidades de Sobremesa
1 – Uma biografia sobre Jack Daniel diz que a destilaria só foi fundada em 1875.
2 – A morte de Jack Daniel teria sido assim. Certo dia ao chegar no escritório bem cedo, ele tentou abrir seu cofre, no entanto não lembrava da combinação. Puto da vida, Jack teria dado um belo chute no cofre e arrebentado o dedão do pé. O machucado virou uma ferida maior e ele teria morrido de infecção generalizada. Segundo o site da Jack Daniel’s, a lição que se tira dessa história é “não vá trabalhar cedo”.
3 – Por que o número sete no rótulo? Explicação 1: foi somente na sétima tentativa que Jack conseguiu chegar ao sabor de uísque que ele queria. Explicação 2: ele tinha sete namoradas. Explicação 3: na verdade era um J de Jack, mas na caligrafia dele parecia um 7. Explicação 4: o número já estaria no barril usado para armazenar a primeira produção. A verdade é que ninguém sabe ao certo, Jack nunca falou. Para mim era jogada de marketing.
4 – O uísque da Jack Daniel’s tem uma classificação própria, chamada Uísque do Tennessee.
5 – A companhia saiu das mãos da família Daniel em 1956.
Twitter do DM: www.twitter.com/eduardonicholas