WWF e Greenpeace

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WWF e Greenpeace

A Natureza não é uma grande mãe que nos dá tudo. Fique numa floresta sozinho durante uma semana e confira. Até mesmo uma leoa ou qualquer predador bem preparado não tem comida a hora que quer. É claro, os seres humanos há muito deixaram a selva e se instalaram confortavelmente em um ambiente modificado por sua tecnologia. Por isso, ao contrário dos leões, podemos ir ao supermercado e garantir o almoço. Se contarmos com algum dinheiro, obviamente.

De qualquer forma, mesmo do alto de todo nosso avanço, dependeremos sempre da Natureza. Porém, depender não é o verbo certo. Não dependemos da Natureza, nós somos parte dela. Apesar dessa conclusão ser óbvia, foi só um dia desses que descobrimos que cortar todas as árvores e poluir todos os rios poderia colocar a continuidade da nossa espécie em risco. Sim, por incrível que pareça, por muito tempo o ser humano pensou que a natureza fosse infinita.

Essa mentalidade começou a mudar na década de 60 quando o inglês Julian Huxley visitou alguns países do leste da África. À época Huxley trabalhava na Unesco. Dentro dessa instituição tinha fundado a The World Conservation Union (atual International Union for Conservation of Nature), uma entidade que visava preservar a natureza e algumas espécies, porém mais com um fim econômico. Algo como “não vou matar todos os atuns, pois as pessoas precisam vender atuns”. E foi nessa viagem que Huxley notou que a coisa precisava ser mais séria. Lhe chamou a atenção a enorme degradação que encontrou na África: florestas desmatadas, animais selvagens sendo mortos por caçadores, rios sujos, entre outros.

Ao voltar para Londres Julian escreveu alguns artigos sobre o assunto. Ele estava preocupado com o cenário e previa que logo não seria mais possível reverter o quadro. Um dia a Natureza poderia ser destruída para sempre. Os textos chamaram a atenção de outras pessoas e logo surgiu a idéia de criar um fundo de proteção para o meio ambiente. Chamada inicialmente de World Wildlife Fund, a entidade cresceu rápido por dois motivos. Primeiro por ter sido fundada por membros influentes da sociedade, os quais tinham muitos contatos. Depois por seu sistema de funcionamento. Em vez de abrir escritórios próprios em outros países, a WWF procurava instituições que trabalhassem com temas relacionados ao seu. Assim já encontrava suporte em outros locais, ficando mais fácil expandir sua rede. Desse modo, a entidade tornou-se uma grande arrecadadora de dinheiro, usado para apoiar iniciativas de conservação.

Quase uma década depois, no Canadá, um grupo de pessoas organizou um protesto contra um teste nuclear que seria realizado nas ilhas Amchitka, perto do Alasca. Pegaram um barco de pesca e seguiram rumo à ilha para tentar impedir a explosão. Na tripulação estavam Jim Bohlen, um veterano da Segunda Guerra Mundial, e o casal Irving e Dorothy Stowe. Foi dos três a idéia inicial do protesto, o qual deveria ser feito no estilo resistência pacífica: simplesmente chegar lá e não sair, exceto arrastado.

No mastro do barco alugado a tripulação colocou uma bandeira com o dizeres green (verde) e peace (paz), palavras que resumiam o objetivo da formação do grupo. Porém, mesmo com todo esse entusiasmo o povo mal conseguiu deixar o Canadá. Foi preso pela Guarda-Costeira dos EUA. Acontece que dentro do barco viajavam alguns jornalistas convidados e a história se espalhou pela mídia.

Ao contrário da WWF, o pessoal do Greenpeace agia de forma mais agressiva. Enquanto os primeiros juntavam verba para iniciar projetos de conservação, tudo de forma muito discreta, o Greenpeace passou a chamar a atenção da mídia com ações muitas vezes cinematográficas. Tentar invadir baleeiros, se amarrar a árvores, essas coisas. Tudo isso enchia as páginas dos jornais, ao mesmo tempo em que fazia o Greenpeace receber apoio da sociedade. Mais importante: colocar as pessoas à par dessas ações usando a mídia firmou a questão do meio ambiente como algo relevante a ser debatido. Por outro lado, ver os heróis levando jatos d´água enquanto tentavam salvar baleias deu ao Greenpeace tantos sócios que atualmente eles não precisam recorrer ao apoio financeiro de governos ou de empresas. Além disso, a tática de fazer ações de impacto midiático influenciou também organizações como a própria WWF e a PETA, para citar só dois exemplos.

Curiosidades de Sobremesa

1 – Julian Huxley é irmão de Aldous Huxley, célebre escritor da obra Admirável Mundo Novo. Além de ser fundador da WWF, ele esteve envolvido na criação da Unesco.

2 – O famoso logo da WWF foi criado por Gerald Watterson. Na mesma época da criação da ONG a panda Chi-Chi chegava ao zoológico de Londres. Ela foi a inspiração para criar a figura, uma vez que se tratava de uma espécie ameaçada.

3 – É claro que os fundadores da WWF e do Greenpeace não foram os primeiros a pensarem na conservação do meio ambiente. No entanto, foram pioneiros ao organizarem instituições em prol desse objetivo. O mais interessante é que a própria noção de organização não-governamental se desenvolve no seio do movimento ecológico, partindo dali para tentar resolver problemas de outros aspectos da sociedade.

4 – O Greenpeace tem como símbolo o arco-íris, referência a um texto que foi lido por um dos membros da tripulação durante a viagem (Robert Hunter). Era uma obra sobre lendas indígenas que em um trecho dizia assim: “Um dia a terra vai adoecer. Os pássaros cairão do céu, os mares vão escurecer e os peixes aparecerão mortos nas correntezas dos rios. Quando esse dia chegar, os índios perderão o seu espírito. Mas vão recuperá-lo para ensinar ao homem branco a reverência pela sagrada terra. Aí, então, todas as raças vão se unir sob o símbolo do arco-íris para terminar com a destruição. Será o tempo dos Guerreiros do Arco –Íris”.

5 – Retomando a afirmação inicial do texto, acho estranho ouvir que a Natureza nos dá tudo de mão beijada, como se estivéssemos no Jardim do Éden. Creio que a natureza não é uma grande mãe que nos dá tudo. A maioria dos alimentos que produzimos hoje, por exemplo, foi resultado de um longo processo de seleção genética feita pelos primeiros agricultores. Uma espiga de milho original, aquela que veio diretamente da natureza sem sofrer nossa interferência, não passa de um pequeno cilindro com duas dezenas de grãos grudados nele. Só temos espigas de milho grandes e vistosas porque no passado promovemos seu melhoramento genético, cruzando plantas que por acaso nasciam com espigas maiores. Algo como formar casais altos de modo a conceber gerações de pessoas altas. O mesmo princípio foi usado com os cães, porém algumas vezes ao contrário. Por isso temos raças totalmente artificiais e despreparadas para a vida selvagem. Exemplo é a raça Dachshund. Com aquelas perninhas curtas eles não poderiam viver no ambiente selvagem de maneira alguma. No entanto, para os manipuladores genéticos humanos, essa característica faz todo sentido, uma vez que o Dachshund foi concebido para caçar texugos dentro de buracos.

6 – O nome atual da WWF é World Wide Fund for Nature.

7 – Os termos green e peace eram para serem usados separadamente. No entanto, certo dia tentaram imprimir um bottom com os dizeres, mas ficou apertado e tiveram que juntar.

Twitter do DM: www.twitter.com/eduardonicholas