Amigas e amigos do Dicionário das Marcas.
Na semana passada fiz um post temático, no qual falei de marcas que vendem o mesmo tipo de produto.
Hoje trago mais uma opção de abordagem.
Dessa vez escrevo sobre marcas que tiveram suas trajetórias ligadas por algum evento no passado. Os detalhes sobre a história de cada uma continuam presentes, mas vocês verão que no meio do caminho seus protagonistas se esbarraram por algum motivo.
Estréio com um caso complicado, envolvendo as gigantes Xerox, Apple e Microsoft.
Espero que gostem!
Eduardo Nicholas
XEROX – Estados Unidos. Fotocopiadoras. 1906.
A empresa The Haloid Company funcionou por mais de 40 anos fabricando papéis fotográficos e fazendo também a manutenção de algumas câmeras. Era uma companhia antiga e estabilizada, mas teve que trocar de nome quando um pesquisador chamado Chester Carlson bateu à sua porta em 1946.
Oito anos antes Carlson inventou uma máquina com funcionamento bastante complicado, porém capaz de produzir um resultado fantástico: fazer cópias de documentos.
Como ele conseguiu tamanha façanha? O processo é complicado, não se engane. Envolve energia estática, tinta em pó e luz. Eu juro que entendi, mas teria que escrever duas páginas para explicar. Então vai a explicação pobre mesmo, é o jeito.
Quando o documento é inserido na máquina, uma luz bem forte passa sob ele. Isso você já viu, não é verdade?
A luz passa através do papel, formando a “sombra” do documento. As partes sem nada escrito ficam mais claras, enquanto as partes com letras e figuras ficam mais escuras. O conjunto claro e escuro que forma a “sombra” do documento usando a luz viaja até o fundo da máquina.Lá embaixo há um tambor energizado, ou seja, toda sua superfície está carregada negativamente. Quando a “sombra” bate nessa superfície, as partes claras fazem com que o que era negativo fique neutro, e as partes escuras ficam negativas mesmo.
E assim o tambor fica com uma “impressão” do documento original. Nesse momento a máquina joga a tinta em pó sobre essa tal “impressão”. O toner é positivo, por isso é atraído para as partes escuras/negativas, ou seja, as partes com letras e figuras. Assim se forma sobre o tambor a cópia do documento. Então, para finalizar, o papel em branco é pressionado sobre o tambor, formando a cópia.
Mais ou menos isso, numa explicação bem porca. De qualquer informa, interessa saber que Chester batizou sua nova técnica unindo a palavra grega xero (seco) ao sufixo grafia (escrever). Ele julgava que a fotocópia era uma espécie de fotografia à seco, uma vez que para ser revelada não precisava de produtos químicos “molhados”.
Pois bem, com essa grande invenção nas mãos, o senhor Chester chegou na The Haloid Company pedindo um pouco de grana para melhorar a máquina. Ele já fazia isso há quase uma década, mas ninguém tinha topado.
Finalmente a Haloid aceitou a parceria. Em 1948 apresentaram a invenção pela primeira vez. Passaram mais 11 anos em desenvolvimento, até deixá-la barata e eficaz o suficiente para ser comercializada.
Em 1959 lançaram o modelo Xerox 914, batizado assim por ser capaz de tirar cópias no tamanho 9 por 14 polegadas. Detentores da patente de uma invenção absurdamente útil, em dois anos a empresa já acumulava milhões, fazendo com que a The Haloid Company mudasse seu nome para Xerox.
Agora com um grande capital em mãos, a companhia passou a investir também em outros segmentos de mercado. Na década de 70 abriram o Xerox Palo Alto Research Center, centro de pesquisa destinado especialmente a estudos sobre informática.
Foi lá que em 1973 surgiu um protótipo de microcomputador chamado Alto. Essa nova máquina simplesmente criou todas as bases para os produtos que mais tarde formariam a indústria de informática. Nele encontramos o primeiro software com interface gráfica (com ícones e janelas), o mouse, tela colorida e editor de texto. Tudo isso tornou o computador algo muito mais acessível ao usuário comum, abrindo as portas para um novo e promissor tipo de mercado.
Obviamente os pesquisadores da Xerox sabiam que tinham nas mãos uma grande descoberta. Porém, suas expectativas foram frustradas pela própria empresa. Ao apresentarem o protótipo para a Diretoria da Xerox, composta em sua maioria por senhores da época da máquina de escrever, a equipe de pesquisa não recebeu sequer um elogio. Os chefões disseram que aquela invenção era ridícula e que o dinheiro investido no departamento tinha sido desperdiçado.
É possível imaginar a decepção desse pessoal. No entanto, a coisa ficaria bem pior…
APPLE – Estados Unidos. Microcomputadores. 1976. A história da Apple é a história de dois amigos com o mesmo nome. O primeiro, Steve Wozniak, um gênio da eletrônica. O segundo, Steve Jobs, um gênio do marketing.
Wozniak sempre gostou de matemática, gostava tanto que muita gente o achava meio doido quando ele ainda era estudante no ensino básico. Sua mãe ficou com pena e resolveu colocar o garoto para estudar eletrônica, uma forma de canalizar suas energias.
A idéia deu certo, pois mais tarde ele foi trabalhar na Hewlett-Packard ganhando uns trocados. Certo dia, ao ler uma revista sobre eletrônica, Wozniak aprendeu a como construir um microcomputador. Entrou então em contato com um amigo que possuía uma loja de informática e conseguiu vender algumas máquinas.
Até então isso era apenas um hobby para Wozniak, assim como era um hobby também para muitas pessoas em meados da década de setenta. Foi num encontro desses entusiastas, ao levar um de seus micros, que Steve reencontrou um velho conhecido chamado Steve Jobs.
Os dois tinham sido apresentados por um amigo em comum, mais ou menos cinco anos antes. Jobs era mais novo, no entanto tinha uma noção de comércio excepcional. Ao ver a máquina montada por Wozniak, logo notou que ela tinha potencial de venda, uma vez que todos seus componentes vinham montados numa placa só, inovação à época. Dono de um perspicaz espírito empreendedor, Jobs rapidamente conseguiu convencer uma loja a comprar 50 máquinas do modelo criado por Wozniak, batizadas de Apple I.
A origem do nome, que significa maçã em inglês, tem várias versões, nenhuma delas muito coerente na minha humilde opinião. Uns dizem que Jobs gostava muito de música, sendo fã dos Beatles. A gravadora dos quatro de Liverpool, como todos sabem, se chamava Apple Records. Daí teria surgido a denominação Apple Computers.
Outra história, contada por Wozniak, afirma que antes da fundação da empresa, Jobs havia estado por um longo período numa comunidade hippie. Lá, vivendo no meio rural, tinha passado os dias colhendo maçãs.
Há também uma versão mais profunda, a qual parece ser mais verdadeira se levarmos em consideração o desenho do primeiro logotipo da empresa. Segundo ela, Jobs teria escolhido a maçã por essa fruta estar associada às grandes descobertas físicas feitas por Sir Isaac Newton.
No entanto, o logotipo mais moderno nos traz outra teoria. Essa tem fundamento no texto bíblico, que associa a maçã ao conhecimento. Desse modo, ao mordê-la ainda no Éden, trocamos o paraíso pela oportunidade de fazer ciência e, conseqüentemente, computadores. Por esse motivo o segundo logo da empresa seria uma maçã mordida.
Historinhas à parte, a verdade é que a Apple cresceu e foi crucial na popularização da informática. Isso aconteceu principalmente por causa do Macintosh, um enorme sucesso de vendas, responsável por mudar a percepção que as pessoas tinham dos computadores.
Porém, a realização do Macintosh só foi possível por causa de outra empresa.
Em 1979 chegou aos ouvidos de Jobs que a Xerox havia desenvolvido uma máquina absurdamente inovadora. Steve fez algumas ligações e marcou de passar lá e dar uma olhada. É claro, os pesquisadores da Xerox não queriam isso, mas a antiquada diretoria da empresa não viu problema. Afinal, Jobs disse a eles que daria algumas ações da Apple em troca.
Foi assim que a maçã copiou toda a idéia do Alto, para mais tarde lançar o revolucionário Macintosh e seu software com interface gráfica chamado Mac OS.
Mas até chegar no lançamento do Macintosh a Apple precisou desenvolver muito a idéia emprestada da Xerox. Para isso contratou um promissor engenheiro de software chamado William Gates para compor a equipe de pesquisa.
Jobs se arrependeria amargamente dessa contratação…
MICROSOFT – Estados Unidos. Softwares. 1975.
A Microcomputer Software foi fundada por William (Bill) Gates e Paul Allen, dois estudantes de computação. Especializados em softwares, o trabalho deles era fornecer programas a empresas que fabricavam hardwares.
O começo foi difícil, pouca grana, muito trabalho. Até o dia que surgiu a grande oportunidade: a IBM precisava de um soft para rodar em seu novo computador pessoal. Gates se ofereceu para fornecer o programa, mas na verdade não tinha nada pronto ainda.Porém Allen lembrava de ter visto um ótimo sistema operacional, criado por uma pequena empresa chamada Seattle Computer Products. Quase com o prazo estourado, os dois foram até lá e fizeram a proposta para comprar o Q-DOS.
A Microsoft mudou o nome para MS-DOS e passou a primeira versão do programa para a IBM, como combinado. O sistema era muito bom e fez muito sucesso, colocando a companhia de Gates no mapa.
Poucos sabem, mas a genialidade de Gates foi propor a IBM uma venda diferente. Em vez de vender os direitos de uso do MS-DOS à empresa, ele exigiu receber uma quantia para cada máquina que fosse vendida com ele instalado. Precisando do programa, a IBM aceitou e a Microsoft faturou.
Gates continuou a desenvolver softs juntamente com outras companhias. Certo dia soube do sucesso da interface gráfica do sistema Alto, concebido pela Xerox. Soube também que Steve Jobs o havia copiado e o estava desenvolvendo. Observando ali uma ótima oportunidade, Bill procurou Jobs e se ofereceu para ajudá-lo. O dono da Apple estava receoso, no entanto precisava de uma forcinha para lançar seu novo produto o mais rápido possível.
Quando finalmente se integrou ao projeto, Gates aprendeu tudo o que podia sobre a interface gráfica. Aprendeu tanto que no dia em que Jobs lançou oficialmente o Macintosh soube que a Microsoft já estava vendendo versões piratas do Mac OS no Japão, batizadas com o nome Windows. Jobs ficou irado, mas a coisa piorou um tempo depois, quando Gates tornou-se um das maiores acionistas da Apple.
Curiosidades de Sobremesa
1 – Quando viu a besteira que fez, a Xerox chegou a lançar seu próprio micro com interface gráfica, antes mesmo da Apple fazer isso. No entanto, o programa ainda não estava totalmente desenvolvido e acabou funcionando mal, tornando-se um fracasso.
2 – Steve Jobs perdeu seu cargo de chefe na Apple quando alguns acionistas julgaram que ele não estava dirigindo bem a companhia. Ele abriu outra empresa, chamada Next Inc., a qual foi responsável pelo criação da Pixar, que antes pertencia ao estúdio do George Lucas (o cara do Star Wars). Dez anos depois, a Apple comprou a Next e recontratou Jobs, pois passava por uma crise. Gênio do marketing, Jobs voltou à empresa e lançou os micros com design inovador, dando novo fôlego ao negócio. Depois você já sabe, surgiram os Ipods e Iphones, o renascimento da Apple.
3 – Apesar do pioneirismo, a Microsoft dormiu no ponto quando a internet começou a surgir. De qualquer forma, isso não impediu Gates de tentar dominar o segmento com o Internet Explorer, depois de um polêmico estrangulamento do Netscape. É claro, ele não sabia que o Google ia mudar tudo! Mesmo assim, o negócio de Gates ainda é o maior no setor de softwares. Ele não tem do que reclamar, pois conseguiu ficar bilionário vendendo esses programas que vivem travando.