Uma garrafa cheia de vapor de álcool + fósforo = ciência! Como fazer a sua, entender o que está acontecendo e ir do “uôu” para motores a jato, bombas voadoras, morte por ondas sonoras e mesmo espíritos, na continuação.
Primeiro, como fazer a sua. O amigo Ricardo Kossatz, aqui do Lógica Mente, reproduziu o efeito de forma bem mais segura:
Usou uma garrafa plástica de 1,5l — você jamais deve usar uma garrafa de vidro, porque ela vai estourar. Garrafões plásticos grandes de água também irão funcionar, mas todos os recipientes que você usar ficarão inutilizados pelo calor.
Basta jogar álcool dentro da garrafa, chacoalhar, cobrindo as paredes, e então despejar o álcool excedente. O objetivo é distribuir vapor de álcool em seu interior, se restar uma quantidade grande de álcool líquido no fundo, você está fazendo isso errado.
Com a garrafa cheia de vapor de álcool, é só acender sua garrafa a jato. Os efeitos podem ser vistos melhor no escuro, e várias tentativas podem ser necessárias para conseguir ver a chama descendo vagarosamente pelo recipiente.
O que está acontecendo aqui? O vapor de álcool misturado ao ar já contém o combustível e o comburente, e o fósforo dá ignição. Como sabemos, isso provocaria a combustão, mas uma não muito espetacular, como a que você pode provocar acumulando um pouco do gás do isqueiro em sua mão e dando a ignição. Apenas um estalido, a mistura é altamente combustível, mas provocará apenas uma pequena explosão.
O que gera o efeito bacana da combustão se estendendo lentamente pela jarra é o recipiente, limitando a mistura entre o combustível e comburente. E é também o recipiente que responde pelo segundo efeito do jato e o som que a jarra faz por alguns instantes. Este é literalmente, e não apenas por brincadeira, um motor a jato. Um tipo específico de motor a jato por pulsos, um dos primeiros criados.
Há uma interação nada simples entre a explosão expandindo-se no interior do recipiente, as ondas de choque e o ar que é sugado para o interior. São explosões por pulsos que irão ressonar com o recipiente, provocando esse ruído que ouvimos ao final. Procure por “Jam Jar Jet” (Jarra de Geléia a Jato) e verá muitos exemplos deste segundo efeito:
Como comentamos antes, isso é o que acontece quando você deixa álcool líquido de sobra no fundo do recipiente. E como comentamos antes, no vídeo acima escolhi justamente um em que o pote de vidro quebrou ao final. Não use potes de vidro a menos que queira apreciar as queimaduras de um coquetel molotov surpresa.
Devido ao pequeno número, ou mesmo completa ausência de partes mecânicas, o pulse jet foi um dos primeiros motores a jato usados na prática, notoriamente nas bombas voadoras V-1, armas de vingança de Hitler disparadas contra a Inglaterra. Elas também emitiam um zumbido, que só era mais temido que o silêncio: quando o zumbido de uma V-1 era interrompido, isso significava que o motor a jato havia sido desligado e a bomba estava em queda livre para seu destino final. O próximo ruído seria um “cabum” letal.
O ruído de motores pulse jet pode ser mesmo infernal, como nestes exemplos:
Lembre-se de que o ruído é o barulho de sucessivas explosões, e cada um destes pulsos é uma onda de compressão e detonação auto-sustentada. Para quem aprecia fenômenos físicos e engenharia é algo belíssimo, com o único revés de que justamente pela compressão ser apenas aquela criada pela onda de choque, a eficiência e o impulso que geram não é muito grande. É por isso que aviões a jato trabalham com compressores com milhares de componentes e não usam garrafões de água gigantes com álcool de cozinha.
A velocidades supersônicas, contudo, a dinâmica é diferente, com ondas de choque representando na prática paredes quase sólidas. Motores a jato de princípios não muito diferentes podem responder por empuxos gigantescos. Um Scramjet não é tão distante da garrafa a jato que você pode criar.
Mas e quanto às morte por ondas sonoras? Desesperados por ideias para armas de vingança, nazistas também exploraram o barulho ensurdecedor de um pulse jet. Após a Segunda Guerra foram encontrados refletores parabólicos parte de experimentos para criar uma arma sônica. Não muito diferente do princípio de um pulse jet, mas aqui com o objetivo de provocar ondas de som com a maior intensidade possível. Para matar, é claro. Combustível seria bombeado, entraria em ignição e ao explodir, provocaria uma onda de choque poderosa que em parte provocaria a ignição do próximo pulso.
A arma não foi muito longe, ondas de choque são uma forma notória de dissipar energia. Por mais poderosas que fossem as explosões, por mais que a ideia de matar alguém colocando seu som no último volume possa parecer, o alcance letal de uma arma sônica nunca será muito grande. Some a isso o detalhe de que os refletores parabólicos eram enormes blocos de concreto, e o fracasso desta arma não é nenhuma surpresa.
Finalmente, e os espíritos? Bem estas são outros nexos, que você descobre em Os Gritos do Calor e os Espíritos do Tubo de Rijke.