O que você vê acima? Um tomate, hambúrguer, alface, queijo e pão da cor mais ou menos certa. Certo? Ainda que sem gergelim, molho especial, cebola ou picles.
O detalhe é que a imagem acima só tem uma cor “de verdade”. Ampliando o quadrado destacado, com um pouco do tomate, alface e pão, vemos que é em verdade composta apenas de tons de vermelho, alternados com tons de cinza:
Não há nenhum verde, amarelo ou marrom: são apenas uma ilusão. Mas esta ilusão não é tanto um “bug” e sim um “feature” especial de nossa visão que a torna superior a qualquer câmera digital. As câmeras digitais vêm com uma versão primitiva dessa capacidade: é o “white balance”, ou balanço de cores. Ele pode ser ajustado para gravar interiores com lâmpadas comuns ou fluorescentes; ao ar livre ensolarado ou nublado. É que a iluminação de um ambiente tem a sua própria cor, que altera a forma como todas as cores na cena irão parecer. Se você ajustar o balanço de cores de forma errada, todas as cores também parecerão “erradas”.
Mas isso não ocorre com nossa visão. Conseguimos perceber cores corretamente sob as mais variadas condições de iluminação, sem nem pensar sobre isso. Nosso cérebro realiza essa proeza justamente porque não funciona apenas misturando as cores capturadas pela retina, e sim comparando as relações entre cada cor com todas as outras. Esta interpretação revolucionária de como nossa percepção de cores funciona é incrivelmente recente. Ela foi destacada inicialmente pelo americano Edwin Land em 1959, mas só foi proposta como uma teoria mais desenvolvida dez anos depois. Isto é, há pouco mais de vinte anos.
Na imagem acima, percebemos mais cores do que realmente estão lá porque os tons de cinza seguem o canal de cores verde da imagem colorida original. O que pode parecer complicado, mas significa apenas que além da cor vermelha, a imagem também tem informações sobre a cor verde — ainda que sem nenhum verde. Nosso cérebro processa a imagem como sempre faz e gera a impressão de cores que não existem realmente.
Não que cores “realmente” existam. Segundo esta nova interpretação, pela qual as cores que percebemos são uma relação entre todas as cores de uma cena, o verde não é apenas uma mistura de cores azul e amarela; o roxo não é apenas azul e vermelho. Nenhuma dessas “cores” realmente existe mesmo como um comprimento de onda de luz capturado pelo olho. As cores existem apenas como um padrão de relação de luzes percebidas por nossa retina e processadas pelo cérebro.
O que pode parecer complicado, mas significa que as cores são algo como o “molho especial”. Que também pode ser um “bug”, que você já deve ter visto nesta ilusão:
O quadrado marrom escuro no centro da parte de cima do cubo é exatamente da mesma cor que o quadrado no centro da parte escura do cubo.
Já vimos na semana passada como mesmo os sons que ouvimos podem ser alterados pelas imagens que vemos — aos que não conseguiram perceber a ilusão, não desanimem: cores são algo que devem perceber. A menos que sejam daltônicos. Na próxima semana abordaremos mais uma ilusão, talvez a maior de todas, a qual até daltônicos devem estar sujeitos!
[A imagem do hambúrguer foi criada por Chris Taylor, que lista as referências científicas ao trabalho de Edwin Land sobre a percepção de cores. Land foi também o inventor da fotografia instantânea Polaroid. A ilusão de cores do cubo é de autoria de R. Beau Lotto, e seu site tem vários outros exemplos.]