Vídeo espetacular combinando 7.000 fotografias condensadas em quatro minutos, destacando a beleza do céu estrelado em movimento. Não é surpresa que os antigos acreditassem que havia literalmente uma abóbada celeste, um enorme teto arqueado cobrindo o céu com pequenos furos por onde uma luz divina podia ser vista de relance. O Sol, a Lua e as estrelas passeiam placidamente, perturbados ocasionalmente por meteoros e essa novidade dos satélites artificiais, e em contraste com a agitação das nuvens, do mar ou das criaturas humanas sobre o planeta.
“Nossa vida diária, o calendário e nossos relógios são acertados pelo movimento cósmico. O nascer e o pôr do Sol, as estações e o movimento da Lua (marés) têm um impacto importante em nossa vida. Esta é a principal razão por que o interesse na astronomia surgiu em tempos antigos. O dia é marcado pelo nascer e pôr do Sol (a rotação da Terra), o mês pela trajetória da Lua em torno do planeta, e o ano e suas estações pelo movimento aparente do Sol na eclíptica (o movimento da Terra ao redor do Sol). Este é nosso programa de astronomia diário já há milhões de anos, e por muitos a vir. Estabilidade e tranqüilidade em contraste com nossa vida moderna”.
O vídeo foi promovido como imagem astronômica do dia da NASA no último dia de 2008, e outros vídeos criados por Till Credner podem ser vistos no imperdível The Sky in Motion. Contemplar a beleza e o senso de perenidade incomensuráveis do universo traz à mente as inesquecíveis palavras de Carl Sagan sobre nosso Pálido Ponto Azul. Nunca é demais ver outra vez:
Um pouco antes que a famosa imagem da Terra como um pálido ponto azul fosse capturada pela Voyager 1, e há quase exatamente 40 anos atrás, no Natal de 1968, a Apollo 8 foi a primeira viagem de seres humanos a outro mundo. Em plena órbita Lunar, capturados pela gravidade de nosso satélite, o astronauta Bill Anderson capturou outra imagem cheia de beleza e significado. Era o “nascer da terra” como visto da órbita da Lua:
Há pouco, o escritor de ciência britânico Oliver Morton escreveu um ensaio inspiradíssimo refletindo sobre esta imagem para o New York Times. Traduzo um trecho:
“Que a Terra é pequena é inegável. Se o sistema solar fosse do tamanho dos Estados Unidos, a Terra teria o tamanho de um campo de futebol americano; se a distância ao centro da galáxia fosse de uma milha, a Terra seria menor que um átomo. Mas se a foto do “nascer da Terra” pudesse ter capturado nosso planeta na dimensão do tempo ao invés do espaço, as coisas pareceriam diferentes. Em sua duração, em contraposição a seu diâmetro, a Terra deve ser medida em uma escala cósmica. Com mais de quatro bilhões de anos, ela se estende a um terço da história do universo, um terço do caminho de volta ao próprio Big Bang. Muitas das estrelas que você vê em uma noite clara de inverno são mais jovens que o planeta abaixo de seus pés.
Mera persistência não é, em si mesma, uma grande façanha. As rochas inóspitas da Lua persistiram por quase tanto tempo. Mas a Terra não apenas persistiu, ela viveu. Por quase 90 por cento de sua história o planeta tem sido habitado e moldado pela vida. Os mecanismos biológicos que funcionaram inicialmente na aurora da vida movimentam as criaturas da Terra até os dias de hoje, formando uma cadeia contínua de pelo menos 3,8 bilhões de anos de tamanho.
Esta vida ininterrupta demonstra que o planeta está longe de ser frágil. A Terra viva é resistente em escalas difíceis de considerar. A vida assistiu aos continentes colidirem e se despedaçarem, céus brilhando como carvão em brasa, mares tropicais congelados e imobilizados: ela sobreviveu. Atingida pela radiação de uma supernova próxima, por asteróides, ela mal se afetou e nunca parou. Nossa civilização pode estar – ou está – fora de equilíbrio com seu ambiente, os modos de vida humanos atuais podem ser assustadoramente precários. Mas aplicar a fragilidade de nosso modo de vida à própria vida é tolice”.
Alguém precisa traduzir todo o ensaio. Se como Sagan notou, a astronomia é uma experiência que nos ensina humildade e fortalece nosso caráter ao nos colocar em perspectiva, complementada pela cosmologia, biologia e tantos outros avanços em nosso conhecimento sobre o mundo e o universo, descobrimos que o frágil Pálido Ponto Azul somos apenas nós. O planeta, mesmo a vida, com muita probabilidade sobreviverá a praticamente tudo que possamos fazer de estúpido. George Carlin já o disse de forma mais sucinta e engraçada, com 100% mais palavrões.
Espero que sejam boas reflexões e imagens para começar o ano internacional da astronomia. Neste ano, comemoramos o aniversário de 400 anos desde que Galileu Galilei olhou para os céus através de um telescópio, observando e descobrindo detalhes de mundos que antes habitavam apenas as mentes das mais audaciosas e avançadas mentes humanas. Estavam lá, para qualquer um poder observar e comprovar com os próprios olhos, que a Via Láctea era composta de uma miríade de estrelas, que Júpiter tinha satélites, que Vênus possuía fases como a Lua, e que a Lua possuía um relevo repleto de montanhas e crateras. Foi sem dúvida o enorme feito de Galileu e a ciência empírica que inaugurou que permitiram que, menos de 15 gerações depois, um homem pisasse nas crateras que o gênio italiano viu em detalhe.
Em 2009 também comemoramos o Ano de Darwin, marcando o bicentenário de seu nascimento e o sesquicentenário (o 150 aniversário) da publicação de A Origem das Espécies. É através da teoria da evolução através da seleção natural que finalmente compreendemos não apenas de onde viemos, mas de onde todas as espécies vieram. E nestes 150 anos, acumulamos tanto conhecimento confirmando e ampliando este que foi mais um dos gigantescos saltos para a humanidade, que compreender a Teoria da Evolução é também “uma experiência que nos ensina humildade e fortalece nosso caráter”. Certamente não sabemos de tudo, ainda há muito para descobrir — essa é a característica central da ciência, descobrir.
Pois descobrimos que nosso planeta é infinitesimalmente minúsculo em um vasto Universo, mas que a vida é espetacularmente resistente sobre este planeta e a fragilidade é apenas de nossa própria espécie. Descobrir tudo isso, ter ciência de tudo isto, também demonstra como nossa inteligência é inimaginavelmente poderosa. “Somos uma maneira para o Universo conhecer a si mesmo”. Até onde sabemos, a única maneira.
De maneira muito simples, precisamos usar este frágil e poderoso dom. Nada poderá garantir a nossa continuidade exceto o progresso democrático da ciência. Porque só através do progresso científico seremos capazes de colonizar outros mundos, deixando de estar vulneráveis a qualquer dos eventos que extingüiram a maior parte das espécies sobre o planeta. E só a compreensão da importância de tal por toda a humanidade concretizará tal sonho
Só assim a inteligência, e não apenas a vida, poderá ser elevada a algo que possa ser medido em escalas cósmicas, e mesmo as estrelas da distante e antiga abóbada celeste estarão a nosso alcance.
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Bem, agora do cósmico para o cibernético, você pode ajudar esta frágil e insignificante coluna a continuar aqui neste não tão pequeno blog. Vote no Sedentário no Best Blogs Brazil na categoria Entretenimento, e garanta que mais pessoas possam ler homenagens piegas como esta a figuras como Sagan, Galileu e Darwin. Basta alguns cliques, e se o Sedentário ganhar prometo que publico a coluna final sobre as pirâmides. 😉