A Igreja Universal do Reino de Deus já é hoje uma das instituições mais prósperas do planeta. Arrecadando cerca de R$1,4 bilhão em dízimos anualmente, em valores apurados pela Receita Federal em 2009, as receitas da igreja superam as de companhias listadas em Bolsa -e que pagam impostos-, como a construtora MRV (R$ 1,1 bilhão), a Inepar (R$ 1,02 bilhão) e a Saraiva (R$ 1,09 bilhão). Seu conglomerado de comunicação é, segundo a Anatel, a maior proprietária de concessões de televisão do Brasil, ultrapassando em número mesmo concorrentes poderosos como as Organizações Globo.
O volume espetacular de dinheiro arrecadado pela Igreja coloca em perspectiva a estimativa de riqueza pessoal de seu líder, Edir Macedo. Macedo amealhou segundo estimativas solicitadas pelo Ministério Público do Estado de São Paulo mais de US$2 bilhões, ou em moeda local mais de R$4 bilhões. Na última semana a revista Forbes estimou sua fortuna de forma conservadora em metade deste valor, o que ainda assim posicionaria este fiel entre os 50 brasileiros mais ricos e perto de fazer parte do seleto grupo de 1.226 indivíduos em todo o planeta, entre mais de sete bilhões de vivalmas, agraciados com mais de nove zeros em valores mundanos. A assessoria de imprensa da igreja informou que as estimativas não estão corretas, e que o valor exato do patrimônio pessoal de Macedo “não merece publicidade”.
Outras igrejas em ascensão no Brasil também colhem os frutos da boa prosperidade: em menos de quinze anos a Igreja Mundial do Poder de Deus alcançou mais de 2.300 templos e fez com que a Forbes estimasse a riqueza de seu fundador e condutor de ovelhas, Waldomiro Santiago, em US$ 220 milhões (R$ 450 milhões).
Outros condutores de ovelhas na lista de fortunas estimadas pela publicação incluem o líder da Assembléia de Deus, com mais de 8 milhões de membros, Silas Malafaia, com riqueza de US$ 150 milhões, ou R$ 305 milhões.
R.R. Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus, com riqueza equivalente a US$ 125 milhões, ou R$ 255 milhões.
E o casal Estevam e Sônia Hernandes, da Renascer em Cristo, com US$ 65 milhões, ou R$ 130 milhões.
À Folha, assim como a Universal, Silas Malafaia contestou a estimativa da revista, e classificou a reportagem como “safadeza”.
Porém, além da riqueza, recentemente o poder e prestígio de tais figuras também chegou ao noticiário.
Concedendo passaportes diplomáticos em “caráter de excepcionalidade”, autorizados diretamente pelo Itamaraty, ao apóstolo Valdemiro Santiago e sua esposa, da Mundial, ao bispo Romildo Ribeiro “R.R.” Soares e sua esposa, da Graça de Deus, e a Samuel Cássio Ferreira e a Keila Campos Costa, da Assembléia de Deus, o governo reconhece que essas figuras portam tal privilégio internacionalmente em função do “interesse do país”.
Estes privilégios não surpreendem dado seu poder político . Com uma presença cada vez maior no legislativo em todas as esferas da República, com 63 deputados e nada menos que três senadores, qualquer candidato a presidente que almeje liderar o governo deve acenar aos interesses da bancada, e uma vez eleito, deve continuar servindo aos seus interesses. Mesmo nomeado ministro da Pesca, adentrando o poder executivo na esfera federal, o bispo Marcelo Crivella deixou claro que isso não garantia apoio de sua bancada ao governo.
Mesmo no poder judiciário, que talvez pareça ao incauto o poder mais resistente à penetração da igreja no Estado, não podemos esquecer da principal denominação religiosa no Brasil. Frente à vertiginosa ascensão das novas vertentes pode-se perder de vista reportar sobre as conquistas históricas e ainda presentes da Igreja Católica Apostólica Romana.
Estimar a fortuna desta Igreja no Brasil ou no mundo é muito difícil, dado que ao longo dos séculos diversos mecanismos especiais foram criados justamente para impedir que este patrimônio seja avaliado e o Estado interfira na Igreja. Mas de todas formas possíveis, a Igreja interfere no Estado. As novas denominações encontram números vistosos para serem exibidos – ou contestados – dada sua novidade e ânsia em adquirir propriedades e veículos de comunicação, algo que a Igreja Católica já alcançou desde tempos primórdios à descoberta deste rincão no Novo Mundo. As fortunas estimadas dos condutores de ovelhas brasileiros mal se comparam com as dezenas de bilhões de dólares que o Papa tem à sua disposição apenas como recursos financeiros para movimentação, com um patrimônio imobilizado quase que literalmente inestimável. Em valores mundanos, a Igreja Católica é uma das maiores empresas do mundo, se não a maior.
E com passaportes diplomáticos concedidos também ao arcebispo emérito de São Paulo, dom Cláudio Hummes, e uma CNBB envolvida diretamente na política, com praticamente nenhuma voz de contestação, pelo contrário, de aceitação natural desta “herança cristã”, a fé católica vê-se representada em praticamente todos os tribunais do poder judiciário através de crucifixos, e, através das ordens de um presidente fiel, José Sarney, tem o seu Deus particular louvado em todas as cédulas de dinheiro que circulam. São apenas símbolos de uma força tão onipotente e onipresente que nem é percebida.
Se a riqueza e o poder dos novos ricos religiosos chama a atenção, é apenas por sua novidade.