Star Wars e a diferença entre consumir e gostar

Colunas, Mundo Hiperativo By dez 17, 2015 29 Comments

Pré-estréia do mais novo filme da série Guerra nas Estrelas. Na fila muita gente usando máscaras do Boba Fett e até capacetes do Darth Vader. Os mais discretos vestindo uma camiseta com o rosto do Yoda. Uma repórter vaga por ali testando o conhecimento dos fãs. A uma mulher fantasiada de Princesa Leia ela pergunta se há algum Jedi chamado Qui-Gon Jinn.

A moça faz uma cara de dúvida antes de responder negativamente. Algumas pessoas riem e outras fazem a mesma expressão de desconhecimento. Parece que Qui-Gon Jinn não era muito famoso naquela fila. Talvez sua decisão de treinar o jovem Anakin não tenha muito peso na história da saga…

De qualquer modo – ao incauto observador daquela cena – uma velha e importante lição transpareceu: não julgue o livro pela capa. Estar fantasiado de Chewbacca não fará daquele indivíduo um conhecedor de absolutamente nada. Não é prova de devoção. É apenas um marido que manda flores toda semana, mas não sabe a data de aniversário da esposa.

Já notei esse comportamento em diversas pessoas – desde o pessoal do The Walking Dead até os fãs do Tio Patinhas – mas só entendi o que se passava quando observei pela ótica do consumo. Todos esses filmes e séries vêm acompanhados de suas mercadorias licenciadas. Bonecos, lancheiras, camisetas, chaveiros – enfim – tudo que se possa imaginar. Esse comércio chega a movimentar mais dinheiro que o produto cultural em si. Há quem seja realmente apaixonado pelo conteúdo e ao mesmo tempo fanático por possuir todas essas bugigangas.

Por outro lado há uma multidão que não está interessada em gostar. Sua motivação mesmo é consumir. É deles que estamos falando aqui. Gente como aquele seu amigo que curte comprar livros, mas raramente lê alguma coisa. Ou alguém que viaja sem saber para onde somente em busca de alguma atenção no Facebook ou ainda o pai que demonstra afeição pelo filho exclusivamente através de um ato de consumo, mas no fim não o conhece. Não sabe suas angústias ou seus verdadeiros anseios.

Consumir é diferente de gostar. Isso vale para os fãs de Star Wars, mas também vale para todos nós.

Pedro Schmaus

Author

Sacerdote da Santa Igreja do Culto ao Nintendinho, Ryu se declara um rapaz casto e introvertido, no fundo desculpas para seus constantes fracassos com as mulheres. Adora surfar, mas não sabe nadar e sonha em conhecer uma praia. Ex-modelo, ex-feirante, ex-atriz, ex-torcedor do Mixto, Evel na verdade é um extraordinário colecionador da série telecurso 2º grau, sabe de cor e salteado todas as lições de química e marcenaria contemporânea. Amante da boa cozinha, não dispensa um churrasco de gato no boteco da Zuleide. Adora aventura e sempre que pode arrisca-se no truco indoor, desde que o ambiente seja refrigerado. "Onde há flor não há envido!"