Um velho subia as escadas que dão acesso a Machu Picchu. Usava bengala e um tubo de oxigênio, além de contar com o amparo de uma enfermeira. Tinha o rosto desfigurado pelo esforço. Quem já fez sabe que esse é um caminho cansativo, mas é no topo que está a melhor vista da Cidade Sagrada. Senti-me mal pelo velho. Por que esperou tanto para viajar? Agora já não tem mais forças. A aventura de descobrir novos lugares tornou-se um tormento físico. Não há como aproveitar, o tempo dele simplesmente passou.
Meu guia notou meu olhar sobre a carcaça do velho. Era ele também quase um ancião. Baixa estatura, pele curtida e nariz de Inca. Perguntou o que eu achava, respondi apenas que tudo tem seu tempo. Ele então me ensinou algo poderoso:
Só fica velho quem desiste dos próprios anseios. Talvez seu corpo padeça, mas a juventude não está nele. A juventude está na coragem e determinação em realizar o que se quer. Esse homem que sobe as escadas não traz com ele sua velhice. Ele carrega em si uma confiança enorme, algo que independente de seu corpo. Quantos homens querem subir esses degraus e nunca virão? Quantos homens já desistiram antes de tentar? Quantos homens já estão velhos antes de estar? Esse homem que sobe as escadas não é nenhum deles, ele conseguiu.
Parei quando faltavam alguns lances de escada. Esperei o velho. Queria olhar seu rosto quando visse Machu Picchu. A Cidade Sagrada é a coisa mais linda que eu já vi nos meus anos de estrada, mas nada que se compare aos olhos marejados daquele homem.
Pensei então em quem está velho antes de estar. Senti-me mal novamente, mas dessa vez com razão.
Um abraço!