As pessoas precisam de atenção, essa é uma característica humana. Por isso atuar para atrair olhares para si não é um tipo de desvio de comportamento. O problema não é querer ser o centro das atenções, mas fazer isso sem ter nada a dizer.
As redes sociais formam um terreno fértil para esse tipo de pessoa. Aquele indivíduo que não sabe compartilhar idéias, prefere o caminho fácil da divulgação de hábitos. Assim surgem as fotos de pratos de comida, gatos, unhas pintadas com esmalte, entre outros.
Para essas pessoas as viagens são só uma desculpa para conseguir mais atenção. Não se trata de experimentar uma nova cultura, somar conhecimento ou fazer novos amigos. Trata-se de criar mais uma oportunidade de massagear o próprio ego.
O tormento começa ainda no aeroporto. A pessoa está indo viajar e faz dois check-in, um no balcão da companhia aérea, outro no Facebook. Depois começa o bombardeio de imagens. Há o registro fotográfico de cada detalhe e – por uma incrível coincidência – todo momento registrado é feliz. Nas redes sociais não há espaço para decepção e tristeza.
E ao voltar de uma incursão de 10 dias o camarada traz 1.500 fotos, no mínimo. Por favor, me desculpe a turma de fotógrafos amadores, essa horda que tanto se multiplica, mas com tantas poses tiradas, onde foi parar a viagem?
Há alguns anos já era comum ver turistas mais preocupados em sacar suas câmeras do que viver o momento. Esse comportamento vem do nosso desejo de perpetuar aquele instante, o que é até natural. Por outro lado, não pode se tornar uma obsessão, não é lógico começar a viver uma viagem só na volta, vendo fotos. Cabe lembrar que muitas das nossas lembranças mais impactantes não foram registradas. Ou você tem uma foto de quando perdeu a virgindade?
Acontece que no mundo das redes sociais o papel da imagem ganhou um outro patamar. Agora não se trata apenas de tirar fotos para lembrar de um momento. Nos tempos do Facebook publicar fotos de viagem significa status. “Eu estou aqui, olhem para mim, eu sou demais, eu viajei, não sei o que é isso atrás de mim, mas ok!”.
E vale tudo para ser notado, até mesmo o comportamento mais bizarro. É quando aquele cara cabeça oca, aquele mesmo que no boteco só fala merda e vomita o editorial da Veja, de repente publica fotos no museu da Anne Frank. Sim, aquele famigerado que não visitaria um museu nem que a própria mãe estivesse enterrada lá, subitamente curte II Guerra Mundial. E ainda escreve algo como “aqui se valoriza a História, bem diferente do Brasil…”, como se fosse o mais politizado dos cidadãos. Para finalizar, tira uma foto em frente ao museu, mas seu próprio rosto ocupa 80% da imagem. Se isso não for ego camuflado de turismo, eu não sei o que é.
No fundo esse viajante não está aberto a conhecer o lugar, não está interessado em aprender nada. Faz passeios esterilizados e esquecíveis, visita um restaurante incomum para tirar fotos do prato, mas quando está com fome prefere mesmo ir ao McDonald’s. Volta para casa com milhares de fotos, mas nenhuma vivência que preste. Só deseja um palco para atuar. E no fim acaba atingindo o sucesso desejado por muitos. Afinal, os álbuns no Facebook estão repletos de lembranças vazias, mas que causam inveja em todos os visitantes do perfil.
Abraço!
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Cuzco – Machu Picchu – Amsterdã – Paris – Pucon – Vaticano – Mendoza – Budapeste – Lima
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