O Comedor de Lixo: O primeiro livro interativo da Blogosfera brasileira – Capítulo 1 – Qual o preço da liberdade?

“..Enquanto o semáforo marcava verde, podia contar suas moedas e calcular o montante recebido na jornada anterior, aguardando, ansiosamente, pelo sinal vermelho e novas possibilidades de lucro…”

“…um projeto de bigode, e uma voz mais grossa, diminuíam drasticamente seu potencial na arrecadação de recursos, o que ocasionava mais trabalho e menos retorno, o caminho da falência para qualquer negócio…”

“…não podia aspirar a um futuro melhor ou comemorar vitórias gloriosas do passado, vivia cada dia limitado pela sobrevivência…”

“…era hora de repensar seu investimento em busca do seu único objetivo de vida, da sua aspiração diária, do motivo pelo qual trabalhava, da sua realização pessoal: a sobrevivência.”

Quer ajudar a fazer o primeiro livro interativo da blogosfera brasileira?

“O Comedor de lixo”, novo projeto do Sedentário & Hiperativo: uma análise sobre a falta de oportunidades no país que joga seu futuro na sarjeta. 

NOTA DO AUTOR:

Saudações! Me chamo Leo Cardoso, tenho 22 anos e moro em Maceió-AL e, antes de tudo, não sou escritor. Nunca tive nenhum livro publicado. Mas como ser pensante com o mínimo de instrução sempre me expressei, mesmo tropeçando, através da linguagem escrita: e-mails, redações escolares, provas acadêmicas, bilhetes, scraps e até arriscando algumas crônicas, contos, poesias e letras de música. Acredito que grande parte de vocês também já os fizeram.

O que nos diferencia dos escritores formalmente conhecidos? O título de escritor e alguma publicação editoral.

Somos todos, diariamente, escritores. Portanto convido todos os leitores do Sedentário & Hiperativo para juntos escrevermos o primeiro livro virtual interativo da blogosfera brasileira.

Mais do que escrever esse livro, teremos a oportunidade de aprender e ensinar sobre os diversos problemas sociais e discutir o que podemos fazer para resolvê-los. Lembremos que todas as grandes mudanças políticas/econômicas/sociais nasceram pela consciência e força populares – nós, cidadãos, temos o dever e o poder de mudança. Contamos com vocês!

COMO PARTICIPAR?

Ao final de cada capítulo postado haverá a hipótese de como interagir e escolher a sequência da história. Respondam os enunciados propostos nos comentários e coloquem a imaginação para funcionar. Haverá um TOP 10 de autores do livro, que, no final, terão seus nomes ligados à publicação de O Comedor de Lixo.

Toda sugestão enviada pelos leitores terão suas respectivas fontes, durante a história, em rodapé de pagina. Qualquer sugestão, crítica, foto para ilustração ou texto para publicação enviem para [email protected] .

Segue o prólogo de “O Comedor de Lixo”, uma obra de ficção que começará com o objetivo de expor o descaso do falido sistema social atual (que peca em esquecer seu passado, em devorar seu presente e desconsiderar seu futuro) e terminará da forma que VOCÊS decidirem.

CAPÍTULO 1:
 
O COMEDOR DE LIXO – CAPÍTULO 1 – QUAL O PREÇO DA LIBERDADE?

            Um trabalhador liberal com seu próprio cronograma de serviço, distribuído em intervalos de quarenta e cinco segundos de trabalho, intercalados por um minuto e quinze segundos de descanso. Sistematicamente organizado, como uma linha de montagem, seu posto de trabalho era estrategicamente escolhido pela regularidade de seus clientes, sempre em grandes quantidades. Independentemente do horário, o lucro era certo. A cada jornada de quarenta e cinco segundos, em média, lucrava-se cerca de 10 centavos, o que, após uma hora de trabalho, descontando seus justos 45 minutos de descanso, somavam-se 3 reais. Oito horas de labor por dia, uma carga horária justa, nos parâmetros da legislação protetora dos trabalhadores, fechava o balanço diário em vinte e quatro reais. Mensalmente, com trabalho também em alguns sábados, o que gerava mais clientes e aumento do honorário, seu salário saia por volta dos 500 reais, mais de um salário mínimo, livre de impostos.

            A pior hora de trabalho se estendia entre 11 da manhã e 1 da tarde, quando a última árvore do canteiro da avenida ficava com sombra a meia altura, e o minuto e quinze segundos de descanso pareciam ser mais curtos que o normal. Mas, quando se chegava à altura das 3 da tarde, as coisas melhoravam e seus clientes, também já menos angustiados, pareciam mais propícios a fazer negócio. Depois de tantos anos e experiência na profissão, havia aprendido que alguns clientes eram potencialmente melhores. Homens de meia idade, principalmente os bem vestidos, não tinham perfil para o negócio. Se alguém estivesse conversando, seja ao celular ou com alguém ao lado, era descartado. A maior parte dos clientes eram mulheres, por volta de 30 anos, e quando acompanhada por crianças, o investimento era duplicado. Um trabalho recompensando pelo prazer de não ter hierarquia, horários fixos, nem obrigações. Só a regularidade de etapas de quarenta e cinco segundos, por um minuto e quinze de descanso, sem precisar falar nada, pensar, apresentar, discutir ou convencer ninguém. Sua jornada diária terminava por volta de 6 horas da tarde, com o sol já posto e a famosa hora do rush, que acabava com a possibilidade de qualquer esmola. Era a hora do balanço diário dos lucros.     

            Ele era o que se costuma chamar de miserável vagabundo – e por vagabundo miserável – e passava seus longos dias em um dos mais movimentados semáforos da cidade. Enquanto o semáforo estava marcando verde, podia contar suas moedas e calcular o montante recebido na jornada anterior, aguardando, ansiosamente, pelo sinal vermelho e novas possibilidades de lucro. Com o dinheiro que recebia, se ele tivesse uma casa, daria para sustentá-la de uma forma digna, e caso tivesse contas, daria até para pagá-las, mesmo com um pequeno aperto no fim do mês. Mas, seus suados 500 reais mensais não eram líquidos nem brutos. No fim do dia, em meio a moedas de 10, 25, 50 e amassadas notas de 1 real, não se sobrava muito após despesas mal planejadas e investimentos irresponsáveis, como um pastel com suco, que se tornava irresistível depois de algumas horas de duro trabalho.

            Uma empresa de fast food servia os restos de sanduíches (condimentos, hambúrgueres, vegetais e batatas fritas) quando chegavam exatas 11 horas da noite, após fechar o estabelecimento e seus funcionários voltarem para suas casas. Apesar de dividir o banquete com dezenas de outras mãos, sempre dava para dormir com o sorriso de uma refeição. Sua única felicidade certa do dia havia sido proibida pela vigilância sanitária, que tornou ilegal despejar o lixo biodegradável nas lixeiras comuns, pois, reclamavam os moradores da redondeza, que o atraso da coleta seletiva ocasionava o aparecimento de ratos, baratas e outros animais peçonhentos.

            A prefeitura havia replantado o jardim da praça central com flores tropicais, instalou quatro postes de iluminação, reformou a fonte de água e até soldou uma nova espada, que a estátua ostentava em punho erguido. Depois da revitalização, tinham proibido, também, dormir lá. Um local que há alguns meses era perfeito para o sono dos justos: muito silêncio, pouco movimento e um ótimo espaço para improvisar uma lareira com um tonel de lixo enferrujado. Agora, depois de perder sua melhor refeição do dia e sem um local fixo para passar a noite, percebeu que a situação estava ficando cada vez mais difícil, uma solução deveria ser posta em prática. 

            Ele tinha completado 15 anos de idade. E um projeto de bigode e uma voz mais grossa diminuíam drasticamente seu potencial na arrecadação de recursos, o que ocasionava mais trabalho e menos retorno, o caminho da falência para qualquer negócio.  Mesmo com sua estatura baixa, pela subnutrição, corpo esguio e olhar desconsolado, sempre em direção ao chão, as espinhas em seu rosto não disfarçavam a chegada a puberdade. Era hora de repensar seu investimento em busca do seu único objetivo de vida, da sua aspiração diária, do motivo pelo qual trabalhava, da sua realização pessoal: a sobrevivência.

            Sobreviver, para grande parte da população, é escapar de um perigo iminente, constante ou até inesperado. Mas, para Ele, sobreviver era simplesmente tentar fazer com que o dia passasse sem dificuldades, que não fossem as cotidianas. Não tinha a capacidade de imaginar o infinito, nem de pensar sobre o cosmos, não sonhava, não fazia planos. Não podia aspirar a um futuro melhor ou comemorar vitórias gloriosas do passado. Era viver cada dia limitado pela sobrevivência. Sem perceber que a causa era essa, tomou uma decisão: deveria ser preso. A privação de uma liberdade – que nunca teve – seria compensada pela sensação de não precisar sobreviver, como um animal. Na prisão, segundo seu raciocínio, ele seria igual a todos, ninguém olharia para ele com desprezo, teria uma cama, alimentação e não precisaria sofrer com o medo que a vida solitária na rua lhe trazia. Deitou a cabeça no papelão úmido, puxou sua manta, descobrindo um dos pés, e pegou no sono, esperando acordar para por em prática sua brilhante decisão.

CAPÍTULO 2 – O CRIME COMPENSA?

PROPOSTAS: 

1 – Escolham o nome do personagem. Deixe nos comentários como ele deverá ser chamado.

2 – Qual a primeira atitude que o personagem deve tomar após acordar? Como por em prática a decisão de ser preso e abdicar de sua liberdade? Escrevam nos comentários suas pospostas.

3 – Precisamos de uma imagem para ilustrar o banner do livro durante as chamadas no blog. Envie sua sugestão ou fotos para [email protected] .

4 – Contem suas experiências com mendigos, pedintes e indigentes no dia-a-dia. Sua cidade sofre desse problema?

Lembre-se que todas as colaborações terão as fontes respeitadas, com seu link, em notas de rodapé durante a história. Abraços, contamos com vocês!

Desde garoto sofre com as brincadeiras de seus professores que na hora da chamada insistem na piadinha “é o Júnior da Sandy?”. Otimista de plantão, acredita em duendes e no Brasil sem corrupção. Não ouviu o último do Caetano, mas achou uma merda. Leu todos os clássicos da literatura universal sempre com uma revista de sacanagem aberta no meio. Inventou a vassoura com MP3 player e câmera digital e pretende ficar rico com isso. Pretende fazer um mochilão a pão e água de Mossoró a Sinop no próximo ano. Nunca viu um disco voador e morre de medo de barata, “mas só daquelas grandes que voam”.