O Desafio Astrológico – parte I

Olá crianças,

Na verdade, este post é mais estudo em relação a um projeto muito bacana que estamos fazendo em conjunto com o Kentaro e o pessoal do Ceticismo Aberto e que empacou (mea culpa) por um problema que gostaríamos da ajuda de vocês para solucionar.
Para explicar qual é exatamente o problema, vou precisar fazer uma pequena introdução ao tema, um acompanhamento de todo o desenrolar deste projeto e um pequeno exercício nos moldes do desafio Astrológico do James Randi que estamos fazendo para vocês entenderem como uma das partes do estudo está caminhando. Recomendo que vocês também leiam o post Interpretando um Mapa Astral.


A Astrologia como linguagem simbólica
Em nosso estado atual de conhecimentos, é simples de explicar no que consistem os fenômenos relacionados à Astrologia. Segundo a teoria, existe uma Ordem no Universo que exerce influência no mundo e que pode ser experimentada através da comparação de nosso Mapa Natal, que refletiria esta estrutura psíquica dentro de nosso subconsciente.
Com os avanços do método científico (material), a guerra entre a ciência ortodoxa e a metafísica foram se ampliando em todos os campos. A Astrologia encontrou muitas dificuldades em tentar coexistir com estas novas abordagens. Para falar a verdade, o próprio conceito da Astrologia é repudiado por aqueles que só são capazes de conceber um mundo material (aquele que eles acreditam que somente o Deus-ciência é capaz de demonstrar e detectar) mesmo quando os mais modernos estudos de física revelam a existência de pelo menos alguns níveis de novas “realidades” coexistindo.

O impasse da Astrologia Científica
Estudos conduzidos nos últimos anos indicam que a crença na astrologia têm aumentado muito, apesar de todos os esforços dos movimentos céticos em atacá-la e mostrar inconsistências no pensamento Astrológico, colocando-o como antagônico ao chamado “Pensamento Científico” (mais ou menos como os ateus fazem com o deus católico para demonstrar que estão “certos”).
Da perspectiva da física material, estas inconsistências são facilmente detectáveis, já que não existe nenhuma “força gravitacional” ou “emanações energéticas” vindas dos planetas que possam alterar de alguma forma nossa personalidade. Os argumentos contra a Astrologia não mudaram desde Ptolomeu.

Contudo, se os princípios básicos da Astrologia continuam funcionando, conclui-se que ela está localizada em algum campo externo à ciência ortodoxa.
Eu já escrevi uma série de artigos a respeito dos princípios espirituais e psíquicos que regem a origem dos mecanismos Astrológicos (você pode lê-los AQUI, AQUI e AQUI), então não preciso voltar a falar sobre eles. Como cientistas materialistas não acreditam em espíritos, para provar a astrologia seria necessário adotar uma tática diferente: Esquece todo este blá-blá-blá de influencia celestiam e utilize estatística para demonstrar uma correlação entre a posição dos astros no mapa de um indivíduo e seu comportamento e voilá.

Os primeiros estudos científicos
Michel Gauquelin e sua esposa Françoise começaram estes estudos em 1950. Seu estudo mais conhecido é o famoso “efeito marte” que demonstrou com precisão que a posição do planeta Marte no Mapa Astral influenciava a performance de atletas olímpicos. Quase 30 anos mais tarde, em 1981, estes estudos foram ampliados pelo Comitê Francês de Estudos de Fenômenos Paranormais (criado, entre outros, pelo ganhador do prêmio Nobel Alfred Kastler), que trabalhou com os Gauquelins no mesmo problema, expandindo a amostra original e mantendo estatísticas que desviavam no que seria considerado “natural”. Quanto maior a quantidade de atletas escolhidos, mais este desvio se aproximava da curva normal, até que, ao examinar uma amostragem gigantesca de atletas, chegaram à conclusão de que esta característica ficava dissolvida.
Posteriormente, o dr. Suitbert Ertel, professor de Psicologia da Universidade de Göttingen, demonstrou que o “Efeito marte” aumenta conforme a eminência do atleta.
Ou seja, demonstrou que qualquer um pode ser um atleta de final de semana. Mas só aqueles que possuem uma melhor seleção natural (mesmo se estivermos falando de aptidões psicológicas) vão chegar aos melhores resultados… inclusive no Mapa Astral. It´s Evolution, Baby! Darwin explica.
Outro caso interessante foi estudado por Suzel Fuzeau-Braesch, diretor do Centro Francês de Estudos Estatísticos, que realizou um estudo com 238 pares de gêmeos quase idênticos, com exceção de seu ascendente, que demonstravam comportamento correspondentes aos seus ascendentes. Apesar de inúmeras dificuldades de avaliação, chegaram à conclusão que 153 pares (64%) estavam favoráveis às teorias astrológicas.
Muitos testes foram conduzidos levando-se em conta somente o Signo Solar, o que resultou, obviamente, em retumbantes fracassos e afastou definitivamente a ciência (e o dinheiro das pesquisas) da Astrologia, relegando seus estudos à Ordens Iniciáticas cujos patronos podiam bancar os experimentos, mas que em contrapartida ficavam com os resultados fechados apenas dentro destas Sociedades, e para os amadores, que não tinham conhecimento de psicologia, estatística, ciências ou simbolismo suficientes para conduzir pesquisas minimamente sérias. E a horda de charlatões dominou as prateleiras com “horóscopos do amor”, “horóscopo para arrumar marido”, “horóscopo do Jornal”, “Horóscopo do cachorro” e por ai vai…
Existe um site bacana que reúne todas as (poucas) experiências a favor da Astrologia e as (muitas) experiências que deram errado. Chama-se Astrology and Science. Felizmente, boa parte das experiências que falharam caiam em dois problemas: estudos usando APENAS o signo solar como base (mais da metade dos experimentos) e estudos nos quais os astrólogos tentam ligar mapas astrais à pessoas. Vamos falar sobre eles mais adiante.

A Astrologia e a Alma do Mundo
Carl Jung merece todo o crédito por ter redescoberto o que chamou de “Alma do mundo”. Uma multiplicidade de deuses, energias, símbolos e histórias que chamou de “inconsciente coletivo”. Segundo Jung, os planetas e os símbolos do zodíaco não são arquétipos, mas imagens arquetipais. Assim sendo, Marte, Mercúrio e Vênus representam em nossa psique os potenciais de agressividade (Marte), comunicação (Mercúrio) e amor (Vênus) inerentes em todas as pessoas e que são projetadas nos planetas que mais encarnam estas qualidades. E a sensação de coincidência em relação ao universo em nosso nascimento ocorre não por influência direta dos planetas físicos, mas pelo fato de que todo o Universo está em sincronicidade no instante de nosso nascimento. Desta maneira, nós nascemos em um determinado momento e local e temos as características e qualidades da estação universal que presenciou nosso nascimento. De acordo com os estudos de Jung e do físico Wolfgang Pauli, chegaram à conclusão que o subconsciente também estaria ligado ao consciente e ao mundo físico de alguma maneira e que o psíquico e o material não seriam duas esferas separadas, como se acredita até hoje, mas o chamado “Unus Mundus” nos ensaios alquimistas.
Kepler, um dos mais conceituados físicos e astrônomos de todos os tempos, assim como Isaac Newton, eram apaixonados por astrologia. Até os dias de hoje, traduções dos textos de Kepler mostram símbolos alquímicos misturados em seus estudos científicos, como se, de fato, estes mundos não estivessem separados (como não estão!). Estas associações levaram Newton e Kepler a descobertas que criaram as bases da ciência moderna, mas sem a alquimia espiritual, eles nunca teriam chegado tão longe.
Newton e Kepler buscaram o que Jung chamou de “Conhecimento Absoluto”, que seria a hipotética esfera onde TODAS as leis que regem nosso universo estariam presentes. A “Teoria da unificação de todas as teorias”, que levaria a humanidade ao conhecimento pleno de TUDO (os cabalistas chamam este estágio da Árvore da vida de Binah, a esfera logo após a passagem simbólica sobre o Abismo). Neste estágio, toda a ciência e todo o funcionamento de tudo (inclusive a astrologia) estaria entrelaçado.
Neste estágio de consciência, percebe-se que todas as religiões são uma só, e que todas as ciências fazem parte de uma única estrutura simbólica manifestada.
Desta maneira, apesar de nem a Astrologia nem os Arquétipos poderem ser explicados pela ciência e pelo método tradicional, podemos enxergar as reflexões da astrologia dentro da ciência.
Para ilustrar, uma gravura do laboratório de ALQUIMIA de sir Isaac Newton (que era ocultista… eu já falei isso? eu nunca me canso de escrever isso!)

Este texto sensacional de Alain Nègre ajuda a entender estes paradoxos (em inglês)
http://cura.free.fr/quinq/02negre2.html

O desafio I
Na comunidade do Teoria no Orkut, estava sendo debatido (mais uma vez) sobre a validade ou não da Astrologia, e não me lembro por quem ou por quê razão, o Kentaro escolheu outros mapas astrais de pessoas bem diferentes junto com o mapa dele próprio e eu, usando apenas a interpretação do mapa, teria de descobrir qual dos mapas era o dele (e que poderia também não ser o mapa dele). Não foi difícil, pois os outros mapas eram de alguém com vários planetas em peixes e outro com vários planetas em câncer… um espiritualista e um cantor/artista… O terceiro mapa mostrava elementos de pensamento organizado e altamente inquisitivo (em contraste gritante com signos voltados para espiritualidade nos outros mapas). Eu disse a ele que, se aquele terceiro mapa não fosse dele, com certeza era de algum outro cético do ceticismo aberto. Mas era realmente o mapa dele. Uma chance em três… melhor do que simplesmente escolher ao acaso um mapa.

Passado o primeiro teste, a idéia do Kentaro foi de fazermos um experimento nos moldes dos que o James Randi faz com os astrólogos: Seriam apresentados 20 mapas, e o astrólogo tem direito de fazer 20 perguntas de múltipla escolha e ai associar cada mapa a cada pessoa.
No email que ele me mandou constava as idéias iniciais do projeto:

– Formular 15 perguntas para o questionário (dez múltipla escolha);
– Criar 20 mapas astrais baseados em dados sobre nascimento, e com
base neles preencher 20 formulários (com as perguntas q vc mesmo
formulou, mais 5 que eu vou criar);
– Analisar 20 formulários e fazer considerações sobre os dados
astrológicos de seus autores.

A uma primeira observação leiga, parece um desafio simples. Tudo o que seria necessário fazer é pegar 20 mapas astrais e relacioná-los corretamente a 20 pessoas, fácil? Não. Não é um teste fácil, muito pelo contrário.

Um experimento Sedentário
Existe um problema complexo para a formulação das perguntas que são necessárias, como vou mostrar para vocês a seguir.
Faremos uma brincadeira nos mesmos moldes do teste preliminar, em uma versão bem simples, do desafio proposto. Pegamos quatro blogueiros cujos trabalhos os leitores do Sedentário já acompanham faz tempo e que, portanto, vocês estarão familiarizados com a maneira de pensar e de se expressar.
São eles:
Marcelo Del Debbio (este que vos escreve, do Teoria da Conspiração),
– o próprio Kentaro (editor do Ceticismo Aberto),
– a Thahy (do psicodélico blog Intensidade) e
– o André Dahmer (autor das mundialmente famosas tirinhas dos Malvados):
Um cético, um escritor/ocultista, um cartunista/artista e uma psicóloga. Quatro figurinhas tarimbadas da blogosfera, com características bem marcantes e individuais.

Você seria capaz de conectar o Mapa Astral de cada um deles ao seu respectivo dono?

Como vocês são astrólogos café-com-leite, o tio Marcelo elaborou um post com os Termos Básicos usados em Astrologia, para que vocês possam se guiar durante o desafio, e farei um levantamento dos mapas seguindo as combinações básicas, para que vocês tenham uma noção de como o processo funciona.

Aqui estão os mapas, nomeados de A até D

Agora vamos a uma análise superficial dos mapas, para ajudá-los em suas escolhas:
Ascendente (Malkuth): quando atingirem por volta dos 30 anos, A (Libra) indica uma pessoa que provavelmente será o mais calmo e tranquilo dos quatro, B (Áries) terá características mais de liderança e será o mais encrenqueiro dos quatro, C (peixes) será o mais espiritualizado e D (capricórnio) será o mais disciplinado do grupo.
Lua (Yesod), representa a intuição; aquilo que você faz quando ninguém está te olhando… A (leão na casa 12) é uma pessoa que, em seu íntimo busca refúgio na solidão de seus pensamentos, afastado das vistas do público; B (gêmeos na casa 3) vive para experimentar experiências diferentes e possui a maior facilidade no grupo para lidar com textos; C (Câncer na casa 5) é o mais alegre, criativo e espontâneo dos quatro; D (escorpião na casa 10) é quem possui o íntimo mais inquieto em relação a segredos e mistérios.
– Mercúrio (Hod), a razão: A (libra na casa 1) indica alguém equilibrado e centrado em sua própria evolução espiritual; B (libra na casa 6) indica alguém com mente diplomática, porém focado no trabalho em primeiro lugar; C (Gêmeos na casa 4) indica uma mente comunicativa e inquieta, voltada para a família em primeiro lugar; D (escorpião na casa 10) indica o pensamento voltado para resolução de mistérios e enigmas – disciplinar os enigmas;
– Vênus (Netzach): indica o que atrai a pessoa: A (virgem na casa 12) é perfeccionista e extremamente meticuloso nos detalhes; B (virgem na casa 5) perfeccionista com a própria imagem/criatividade; C (Áries na casa 2) indica independência e dinamismo, e o mais impulsivo dos quatro; D (escorpião na casa 11) possui uma combinação intrigante: é muito sociável e possui muitos amigos/contatos, mas em seu íntimo, é uma pessoa extremamente reservada.

Analisando as casas superficialmente, vemos que A possui muitos planetas na casa 12, da consciência social. De todos, é o que mais sente as injustiças do mundo e o que mais se revolta com elas; B possui planetas concentrados na casa 6; certamente é o mais workaholic do grupo. C possui os planetas centrados na casa 8, que é lidar com as coisas dos outros, e finalmente, D é o mais disciplinado do grupo, com seus planetas centrados na casa 10.

Visitem os blogs dos quatro candidatos e façam suas escolhas. Respostas no próximo Post.

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Textos relacionados no blog Teoria da Conspiração e no Blog da Daemon.
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