Girl Power
O sonho de muitas feministas radicais finalmente ocorreu: os machos dominadores e cruéis desapareceram da face da Terra e agora o mundo pertence ao “sexo frágil”, exceto por um jovem com problemas amorosos e seu primata de estimação. Yorick é um jovem aprendiz de escapista a la Houdini que mora em Nova York, tem um macaco chamado Ampersand, ama sua namorada Beth, embora ela esteja na Austrália estudando, e como muitos outros de sua geração, não sabe muito bem o que esperar do futuro. Enquanto pratica um truque novo e conversa com sua namorada ao telefone, Yorick não suspeita que, do lado de fora de seu apartamento, todos os mamíferos machos do planeta estão sangrando até a morte. No momento em que o jovem pediria a mão de Beth em casamento, a ligação é interrompida pela confusão que se forma na rua quando mais da metade da população mundial simplesmente cai morta.
O exercício de narrativa do escritor Brian K. Vaughn (atualmente roteirista do seriado Lost) é muito interessante. Como imaginar um mundo sem o cromossomo Y? Aviões sem pilotos. Nações sem comando. Exércitos aniquilados. Colapso da indústria e da pecuária. Milhões de corpos a serem enterrados. A iminência da extinção de todas as espécies. E o mais preocupante: milhões de mulheres totalmente desesperadas, reunidas nos mais variados tipos de comunidades e seitas. Existem desde aquelas que querem se certificar que a “praga masculina” realmente acabou, como aquelas que buscam um último “Adão” para continuar a espécie.Olhando por esse foco a história pode se basear apenas na política, ou na luta pela sobrevivência, ou então em sessões infindáveis de sexo para o protagonista. Mas o grande pilar da série é o amor de Yorick por Beth, e como esse sentimento pode sobreviver quando se está rodeado de mulheres querendo sua morte e outras tantas querendo reproduzir-se desesperadamente.
Fim de namoro
Todo homem que, de uma hora para outra, se vê afastado da mulher que ama acaba passando por alguns momentos muito característicos e, por isso, Y – The Last Man pode ser uma grande analogia ao fim dos relacionamentos, num ponto de vista masculino.
No começo vem a sensação de liberdade. Você não é, mas se sente como o “último macho livre de sua geração”. Lá fora existe um mundo cheio de mulheres simplesmente desesperadas para conhecer um cara como você e, logicamente, seu comportamento deve corresponder a essa expectativa.
Mas não demora muito para a ficha cair: você está sozinho. O mundo continua com muita gente, mas a solidão acaba sendo inevitável. Aquelas mulheres que antes pareciam sexy e atraentes agora parecem um bando de lunáticas e passam a desprezá-lo completamente, ou então estão desesperadas a ponto de tratar qualquer homem como se ele realmente fosse o último de sua espécie. E a mulher que você ama continua na Austrália, que pode ser um distante país na Oceania ou um recanto escondido de sua memória. E o pior de tudo: para ela você está morto.
Yorick opta por seguir seu amor até onde for preciso, e parte em uma jornada ao outro lado do mundo atrás da mulher que ama, enquanto conta com a ajuda de uma agente especial e de uma cientista para entender as causas do incidente e o motivo de ainda estar vivo. No caminho acaba caindo em tentação uma ou duas vezes, mas tenta desesperadamente manter-se fiel a seu amor.
Em determinado momento na série, chega a se cogitar que o anel de noivado que Yorick havia comprado para Beth continha algum segredo que poderia ser a chave de sua sobrevivência. Só mais uma pista do escritor de que “o amor pode salvar”.
A verdade é que de machista, a série não tem nada. Apesar de ter vários aspectos para análise, a história trata a busca pelo amor como linha mestre na condução do roteiro. A distância que separa o último homem vivo de sua amada é só uma metáfora para os empecilhos da vida e os problemas cotidianos. Afinal, se bastasse pegar um avião para encontrar a minha Beth eu já estaria no aeroporto.
Um abraço!
Marton Santos